Tu és Pedro!
Hoje, a Igreja
dispersa pelo mundo inteiro une-se à Igreja de Deus que está em Roma para
celebrar a solene comemoração do martírio dos Apóstolos São Pedro e São Paulo
que deram seu último e pleno testemunho de Cristo, derramando seu sangue em
Roma. No Brasil, esta comemoração acontece no domingo seguinte ao 29 de junho.
Ora, esta celebração em honra dos Santos Apóstolos dá-nos a oportunidade para
recordar a missão do Sucessor de Pedro na Igreja de Cristo.
O Papa, como vigário de Cristo e sucessor de Pedro na Igreja, é o sinal visível
da comunhão de todos os discípulos do Senhor na mesma fé e na mesma caridade,
de modo que, com ele, todos cristãos, os fiéis e os pastores, devem estar em
comunhão plena, sincera, leal e visível. Do mesmo modo, todas as Igrejas locais,
isto é, todas as dioceses, devem estar em comunhão com a Igreja de Pedro, que é
a Igreja (diocese) de Roma, que tem o Papa como seu Bispo. Foi em Roma que
Pedro, que era o Bispo daquela Igreja, deu o seu último e decisivo testemunho
de Cristo, por volta do ano 64 da nossa era, derramando seu sangue pelo Senhor,
cravado, também ele, numa cruz. É comovente: o majestoso altar no qual o Papa
celebra as Missas mais solenes na Basílica de São Pedro, é chamado Altar da
Confissão. Ali, bem ali, metros abaixo, está sepultado Pedro! Ali, o Apóstolo
confessou de modo perfeito, com seu sangue, que Jesus é o Cristo, o Filho de
Deus! Missão de Pedro, missão de seus Sucessores: testemunhar com a palavra e a
vida que Jesus é o Cristo de Deus. Por isso o Papa usa sapatos vermelhos: para
recordar que seus passos, como os de Pedro, não devem guiar-se pelo que é
fácil, mas pelo testemunho fiel, até o sofrimento, até o derramamento de
sangue...
O Papa não é um administrador e não tem um programa de governo ou um cronograma
de atividades. Ele é uma testemunha: testemunha a fé da Igreja, expressa pelo
Apóstolo Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo! Só tu tens palavras de
vida eterna!” Este serviço na Comunidade eclesial existe por vontade do próprio
Senhor Jesus Cristo, de modo que não poderia jamais ser criado ou cancelado
pela Igreja. Sim, com certeza certa: por expressa e clara vontade de Cristo, a
Igreja tem como cabeça visível o Papa!
Esse ministério petrino não é uma monarquia absoluta, nos moldes dos reis e
governantes deste mundo. O Papa não é o que manda; é o que serve à unidade da
fé e do amor. Antes de ser obedecido, ele é o primeiro a obedecer Àquele que se
fez obediente até a morte. Certamente, ele tem a autoridade que lhe foi
conferida por Cristo para ligar e desligar, isto é, para admitir e excluir da
Comunidade da Igreja, para punir e suspender a punição. Tem também a autoridade
suprema de ensinar em nome e com a autoridade de Cristo. No entanto, é
importante que tudo isso seja compreendido como um serviço, com o objetivo de
manter a Igreja toda unida na fidelidade à mesma fé apostólica e à mesma
caridade que o Espírito de Cristo derramou sobre a Igreja do Senhor.
Do mesmo modo que seria um erro ver no Papa um ditador ou um monarca absoluto,
também seria um grave engano ver nele um líder democrático que somente poderia
agir de acordo com a maioria e suas palavras, ensinamentos e decisões somente
teriam valor se aprovados pelos membros da Igreja. Nunca foi isso que os
cristãos creram, pensaram, viveram ou ensinaram! Na Igreja, a autoridade não
provém do rebanho, mas do Pastor, Jesus Cristo: “Quem vos ouve, a mim ouve”. É
ele quem escolhe e chama, conferindo autoridade aos que escolheu.
A atitude correta de um verdadeiro católico para com o Santo Padre é aquela de
sentimento filial, de reverência consciente e madura e de atenção fiel aos seus
ensinamentos. Mais ainda: quando o Papa ensina de modo solene, no caso da
proclamação de um dogma de fé, ou quando se pronuncia de modo definitivo sobre
alguma doutrina, mesmo que de modo não solene, nossa adesão ao seu ensinamento
deve ser não somente de respeito e acolhimento, mas de adesão total, confiando
que no seu ensinamento é o próprio Cristo que, no Espírito Santo, recorda
continuamente à Igreja tudo aquilo que tem relação com a verdade da nossa
salvação.
Infelizmente, nesta época de contestação em que vivemos, procura-se apresentar
a autoridade na Igreja como uma simples autoridade humana, estribada nos jogos
de poder tão comuns nos vários âmbitos da vida. Pensa-se num “Papa carismático”
utilizando este adjetivo de modo totalmente mundano: carismático como
engraçado, pop, comunicativo. No cristianismo, “carismático” é quem recebeu um
“carisma” isto é, uma graça especial do Senhor. Todo Papa é carismático porque
recebeu o carisma do ministério petrino! É um erro mundanizar e vulgarizar as
coisas sagradas. Os católicos não podem cair nesta armadilha. No entanto, não é
raro ver-se até ministros ordenados ou religiosos falando ou mesmo agindo em
dissenso com o Papa. Tivemos a tristeza de experimentar essa realidade,
escancarada na televisão, nos jornais e na internet, entre o final do
pontificado do Beato João Paulo II e o início do ministério pastoral do Papa
Bento XVI. Um sabichão de plantão, sem nenhum compromisso efetivo com a Igreja,
chegou até a profetizar em nome próprio que “esse Papa jamais será amado”.
Errou. O Papa já é e será sempre amado pelos verdadeiros católicos com um amor
que nasce da fé. Amado por ser um homem de Deus, amado por seu amor entranhado
a Cristo, amado por ser simples, amado por ser sincero, amado por ser sábio nas
coisas de Deus, amado por ser manso, amado por ter suportado mentiras, calúnias
e perseguições morais por amor ao Reino de Deus, mas, amado sobretudo por ser,
pura e simplesmente, o Papa, Sucessor de Pedro, Vigário de Cristo.
Acompanhemos o nosso Santo Padre com nossa oração e nosso afeto. Nós o
conhecemos e o chamamos Bento; mas, na verdade, o seu nome é Pedro, a pedra
sobre a qual o Senhor continuamente edifica a sua Igreja.
Dom Henrique
Soares
Fonte: Blog de Dom Henrique