Por que os psicanalistas não acreditam em castidade?
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Muitos psicanalistas não creem na possibilidade de uma vida casta. E isso se deve às teses de seu pai fundador, Sigmund Freud; para quem a pregação cristã sobre a castidade, seja no matrimônio, seja no celibato, não passava de uma espécie de armadura colocada sobre o ser humano. Em seus escritos, Freud considera o homem um animal defeituoso, dominado por uma pulsão que o leva à vida: o eros. O homem, portanto, deseja fazer sexo, ter prazer. Não obstante, há uma estrutura no mundo que, segundo Sigmund Freud, o oprime, impedindo-o de realizar todos os seus desejos. Essas estruturas, por sua vez, seriam apenas uma superfície, uma crosta artificial, cujo intuito não poderia ser outro senão mascarar as reais inclinações do gênero humano. Foi baseado nessa argumentação que Freud chegou a ensinar aos seus alunos que se o homem fosse colocado numa prisão com outros malfeitores, tarados sexuais e pervertidos, em pouco tempo, todos estariam entregues ao próprio instinto, fossem eles padres, advogados, médicos, juízes, etc. Essa afirmação de Sigmund Freud, não obstante, já foi bastante refutada nos últimos decênios, inclusive por um de seus alunos mais famosos: Viktor Frankl[1]. Victor Frankl padeceu os horrores do regime nazista, nos campos de concentração da Áustria, onde foi mantido por quase três anos. Em meio àquela tragédia, marcada por um sentimento cortante de terror e medo, o médico psiquiatra viveu na pele o que seu mestre, Freud, havia apenas descrito na teoria: a fome, a tortura, o desespero e a dor. Mas para frustração da psicanálise freudiana, Frankl descobriu que quando os indivíduos daquele ambiente tinham em que se agarrar, surgia-lhes uma faísca de esperança, que os mantinha vivos e mais saudáveis, ao passo que aqueles que já não viam mais sentido algum em sua existência entregavam-se facilmente à morte. Dessa experiência nasceu o famoso livro "Man's search for meaning", no qual Frankl discorre sobre a busca do homem por um sentido na vida.
A psicologia de Freud só foi capaz de atingir o fosso desse castelo. Ele, sim, atingiu apenas a superficialidade da existência humana. Mas é preciso ir além. Desse modo, insiste Santa Teresa, se se quer atingir a última morada, é necessário, pois, admitir também nossas próprias fraquezas. Quando entramos na primeira morada entram conosco nossos animais, sabandijas - para usar a linguagem de Teresa -, que ficam nos mordiscando, impedindo-nos de enxergar a beleza do castelo. Isso explica o porquê de tantos católicos, após algumas tentativas de verdadeira conversão, desistirem no meio do caminho, dando razão às teorias de Freud. Temos de ser mais generosos. É preciso que estejamos dispostos a dar o próximo passo: ir para a outra morada. E é nesta relação de amor com Deus que encontramos nossa alma e, por conseguinte, a castidade. Trata-se de uma entrega. Por isso, deve-se fugir da atitude da mulher de Ló que, olhando para trás, à procura dos bens que deixara, converte-se em estátua de sal. Não olhemos para trás. Olhemos para Cristo. Ame a Deus e você encontrará a castidade. Referências 1. Olavo de Carvalho, A mensagem de Viktor Frankl, in Bravo, novembro de 1997 2. Edith Stein (ou Teresa Benedita da Cruz) foi uma filósofa e fenomenóloga judia do século XX, cujo trabalho foi influenciado por Edmund Husserl, de quem foi aluna e assistente. Após sua conversação, decidiu entrar para o Carmelo, onde viveria até a trágica deportação para o campo de concentração de Auschwitz, vindo a morrer na câmara de gás. O Papa João Paulo II a canonizou em 1998, sob os auspícios de que seu exemplo pudesse nos inspirar sentimentos de verdadeira comunhão com Deus, sobretudo no instante da dor.
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