A CONVERSÃO DE GRAHAM
LEONARD
EX-BISPO ANGLICANO DE LONDRES CONVERTE-SE AO
CATOLICISMO
Fonte: Agência Zenit - Madri, 06.11.2001
Tradução: Carlos Martins Nabeto
O ex-bispo anglicano de Londres revela o motivo
de sua conversão ao Catolicismo: "Na Igreja Católica encontra-se a verdade
sem subjetivismos".
Não é fato comum que o bispo anglicano de
Londres se converta ao Catolicismo. Mas este é o caso de mons. Graham Leonard,
que neste último fim de semana (11/2011) participou de um congresso realizado
na capital espanhola pela Associação de Conversos ao Catolicismo "A
Caminho de Roma". Em entrevista concedida a ultima edição do semanário
"Católicos do Século XXI", revela os motivos que o levaram a dar este
surpreendente passo:
P: Qual a origem da sua
conversão?
- Minha conversão ao Catolicismo vem de muito
tempo, não foi de repente. Há muitos anos, experimentei uma grande preocupação
ante aos acontecimentos que ocorriam naquela que era a minha Igreja, a Igreja
Anglicana. Sempre defendi que a fé é um dom de Deus e que ela não é fruto das
descobertas individuais que cada um pode fazer. Como membro da Igreja
Anglicana, me preocupava muito em que nela se dava cada vez mais importância às
interpretações particulares e individuais da fé. Interpretações que dependiam
da situação, do ambiente, do que a Igreja tivera por bem decidir e opinar em
certo momento.
P: Essa queda para o
subjetivismo, para o relativismo, o senhor percebeu apenas nos últimos anos ou
chegou a dar conta de que o problema estava enraizado desde o nascimento da
Igreja Anglicana?
- Na realidade, sempre foi assim desde a Reforma
do século XVI. Naquela época, quando nasceu a Igreja Anglicana, a fé foi
expressa como uma tentativa de resposta para a situação política criada por
Henrique VIII. O professor Powicke assim afirmou, com clareza: "O que pode-se dizer definitivamente da Reforma na
Inglaterra é que esta foi um ato de Estado". A Igreja na
Inglaterra encontrava-se à mercê e submissa aos objetivos políticos da
monarquia Tudor. Para ele, deixou de ser a Igreja Católica na Inglaterra,
passando a ser a Igreja da Inglaterra.
P: Isto ocorreu outras
vezes?
- Na realidade, este processo de adaptação da
fé às necessidades do momento vem se repetindo desde então. O conteúdo
doutrinário da fé dependeu, durante muitos anos, da interpretação das fórmulas
realizada pelos juristas. Nos últimos anos, tem dependido do Sínodo Geral.
Segundo a Conferência de Lambeth - uma espécie de Sínodo de todas as igrejas
anglicanas do mundo - cada Igreja em cada país está livre para determinar como
deve entender a sua fé. Quando me dei conta disto tudo, compreendi também que
já não poderia seguir exercendo meu ministério sacerdotal nestas condições.
P: Foi determinante o fato
da Igreja da Inglaterra aceitar o sacerdócio feminino?
- Isso foi detonante, pois representou o
estabelecimento de uma nova comunhão, segundo a qual se requer como necessário
crer em algo que a Igreja jamais requereu como matéria de fé. Foi um passo
adentro desse processo de subjetivismo, segundo o qual cada um é livre para
crer no que quiser. Já ocorrera antes com a fé na ressurreição.
P: O senhor é casado, como é
costume no clero anglicano. Como a sua esposa acolheu a decisão de sua
conversão, de que pretendia renuncia a uma vida confortável como bispo de
Londres e passar para uma situação incerta?
- Ainda antes de mim, ela queria ser católica,
mas nunca me disse nada para não pressionar-me, em razão da minha responsabilidade
dentro do Anglicanismo. Ela, assim como eu, está muito feliz desde que optamos
pelo Catolicismo.
P: E seus filhos? Como
acolheram tais decisões?
- Temos dois filhos e cinco netos. Aceitaram a
nossa decisão e a respeitaram; porém, permanecem como anglicanos.
P: Sentem-se acolhidos na
Igreja Católica?
- Muito bem, sem dúvida alguma.
P: E os sacerdotes
anglicanos que, como o senhor, se converteram ao Catolicismo? Estão contentes?
- Sim, sem dúvida. Não conheço nenhum que não
esteja satisfeito.
P: Em que trabalham após a
conversão?
- Fazemos o mesmo que qualquer outro sacerdote
católico: nas paróquias, como capelães nas universidades, nos hospitais, como
professores. Por exemplo, um deles, que era sacerdote da diocese de Londres
quando eu era seu bispo, é agora vigário geral da diocese católica de
Westminster. Em meu caso concreto, a nomeação de prelado honorífico que recebi
de Sua Santidade tem sido vista pelos ex-anglicanos como sinal de aprovação do
Santo Padre às boas-vindas que já tinha recebido localmente. Em meu ministério,
concentro-me em realizar retiros espirituais com os clérigos diocesanos, a
convite do bispo de Birmingham, por exemplo. Há algumas semanas, terminei um
retiro com os beneditinos da Inglaterra.
P: Alguns, inclusive na Igreja
Católica, pedem para que o primado do Papa deixe de ser jurisdicional e passe a
ser apenas um primado honorífico. Qual a sua opinião a respeito?
- O essencial da primazia petrina não é a honra,
mas a jurisdição. E isso porque se trata de defender a verdade, os direitos da
verdade. O primado do Papa é essencial para a Igreja porque é de instituição
divina. É essencial também para alcançar a verdadeira unidade entre as Igrejas.
P: Por quê?
Porque a unidade, para que seja autêntica,
somente pode estar fundamentada na verdade. É responsabilidade do Papa
assegurar esta unidade na verdade.
P: O senhor crê que devam
ser feitas concessões no diálogo ecumênico para se alcançar mais facilmente a
unidade?
- Não creio que se deva falar em concessões. A verdade não se descobre nas negociações, mas na
obediência.
P: Como o senhor enxerga a
crise que passa a Igreja Católica?
- Sobre a crise da Igreja Católica, depende do
ponto de vista, pois nela há muitas coisas positivas, como os novos movimentos
e a revitalização que vem fazendo nas paróquias. Basicamente, como crise
oriunda dos poderes do mal, o que se tenta é difundir o subjetivismo como
método para arruinar e destruir a autoridade divina. Eu confio totalmente e
sempre no poder amoroso de Deus e em seus objetivos para a humanidade. Confio
em Deus totalmente e porque creio em Deus, creio na Igreja que ele nos deu; por
isso tenho esperança. É esta Igreja que deve dar cumprimento aos planos de Deus
para a salvação do homem.
Fonte: AGNUS DEI.