Teologia Feminista
Além de tudo o que o Jorge Ferraz apontou (no artigo #1417),
cabe ainda outro pequeno detalhe:
A visão católica da mulher contradiz tanto a visão de mulher da sociedade
burguesa contra a qual o feminismo se levantou como a visão feminista que
inspira a suposta "teologia feminina".

A mulher e o homem foram criados por Deus um para o outro. A visão burguesa
pinta a mulher como uma espécie de ser subumano, meio imbecil, cuja única
missão no mundo é lavar as cuecas do macho dela. A visão feminista, revoltada
contra este absurdo mas tendo ouvido o galo cantar e sem saber onde, separa a
mulher do homem. Já dizia a líder feminista que a mulher precisa do homem tanto
quanto um peixe precisa de uma bicicleta.
Ambas são mentirosas. A mulher precisa do homem quase tanto quanto o homem
precisa da mulher. E é nesta interdependência que se dá o crescimento de um e
de outro, que se torna possível a formação de um todo que é maior que a soma
das partes: a família.
A família se deve à mulher. Ela obriga o homem a manter-se no lar, que é da
mulher. Sem o matrimônio, o homem vai fugir, vai trocar a mulher de quarenta
por duas de vinte. O matrimônio é "múnus", é dever e responsabilidade
da mulher, por ser ela mais capaz que o homem neste ponto, é esta ordem
familiar, que ela cria e mantém. É o "matri munus", o múnus da mãe, o
matrimônio. Querer que a mulher se dedique, em suposta igualdade de condições,
ao múnus do pai (o "patri munus", patrimônio), competindo no mercado
de trabalho como caixa de supermercado ou qualquer outra profissão que é
exercida exclusivamente pela remuneração, não por vocação, como querem as
feministas, é negar o que a mulher tem de específico e transformá-la numa
versão menos eficiente do homem.
Ora, a mulher é infinitamente superior ao homem em tudo o que diz respeito à
manutenção e à criação de uma ordem complexa. A ordem que o homem cria é
simples, seca, feia: a ordem de um quartel, de uma oficina. Nela não há lugar
para as nuances e riquezas que as mulheres percebem e organizam melhor que os
homens, para aquilo tudo que faz de um lar algo essencialmente diferente de um
apart-hotel ou quartel.
A teologia clássica (ou seja, a teologia ortodoxa, em contraste com o
bestialógico reducionista de uma suposta "teologia da mulher" de
origem feminista em que se fica tratando homens e mulheres como peças
intercambiáveis e querendo que mulheres sejam "padras") não é nem
poderia ser machista. Ao contrário, aliás. Na teologia clássica, aprendemos que
os Céus e a Terra têm - como qualquer ordem complexa e baseada no amor - uma
Rainha. A Criação - e, mais ainda, a Comunhão dos Santos, dentro dela mas
ordenada além pela Graça - não parece com um quartel, sim com uma família. É
uma ordem infinitamente complexa, uma interdependência cuja riqueza e cuas
nuances de sentido e de fluxo (fluxo de graça, fluxo de amor, fluxo de perdão e
de auxílio mútuo) são ordenadas pelas mãos feminíssimas daquela que é a
Medianeira de Todas as Graças.
Quando comparamos a beleza desta visão a uma visão realmente machista, a uma
visão "teológica" surgida no auge da modernidade, como a dos mórmons,
isso fica ainda mais claro. Para eles, a salvação seria operada pelos homens
fazendo coisas supostamente racionais (ministrando sacramentos por procuração
aos antepassados), e às mulheres competiria servi-los como escravas. Uma mulher
mórmon acha que sua salvação vem por ela servir um homem que será salvo. Ela é
um apoio, um adorno, uma escrava; é ele que opera um mecanismo cru e simples de
"salvação" que pode levar a ela e às outras "esposas" do
sujeito a alguma ascensão. Isso consegue ser pior, ser mais machista, ser mais
distante da beleza da ordem criada que é posta por Deus nas mãos da Imaculada,
que o próprio Islã.
E é contra este machismo, contra uma visão teológica que pinta de
"católica" uma visão da mulher moderna que é muito mais perfeitamente
expressa no mormonismo, contra este espantalho, este boneco de palha que nada
tem a ver com a visão ortodoxa da mulher, que se levanta esta "teologia
feminista", que surge apenas onde a modernidade ou bem conseguiu solapar
as bases da Fé, como na Europa, ou onde a Fé não conseguiu dissolver
suficientemente a modernidade do território de missão, como nos EUA.
A visão moderna, mecanicista e masculinizada (no pior sentido: na
hiper-simplificação de uma ordem complexa - pense na diferença entre um lar,
que é feminino, e um apart-hotel ou quartel, que é masculino) da hierarquia
eclesial é que percebe o papel do padre como um papel de "poder".
Ora, o padre, como o pai, leva o lixo pra fora (na Confissão), bota comida na
mesa (confeccionando o Santíssimo Sacramento), mas isso não é poder. Isso é
serviço, e um serviço que só pode ter o seu lugar correto, só pode ser aquilo
que Deus quer que ele seja quando ocorre dentro de um quadro de ordem
infinitamente complexa, um quadro essencialmente feminino: a Igreja, Esposa de
Cristo, ministrando as graças que nos vêm pelas mãos da Mãe Medianeira.
A Igreja é um matriarcado, como é um matriarcado qualquer lar. A palavra final
sobre cada detalhe é de quem é capaz de percebê-los: a mãe. O trabalho sujo, a
troca de lâmpadas e o lixo levado pra fora, compete àquele que, deixado a seus
próprios desígnios, seria capaz apenas de criar um quartel: o pai.
Querer que mulheres sejam "padras" significa retirar da mulher a sua
função mais bela de organizadora, e fazer com que ela se encaixe numa
organização puramente natural de modelo masculino. A hierarquia da Igreja, no
seu aspecto natural, é tão pobre e tão nua quanto uma hierarquia militar. Não
é, como a hierarquia militar tampouco o seria, um lugar para mulheres. É por
isso que a hierarquia da Igreja transcende o natural e mergulha plenamente na
ordem da Graça. É por isso que cada padre, cada Bispo, cada diácono é chamado e
instado a entregar-se nas mãos da Santíssima Mãe de Deus: para que esta ordem
não seja o que ela seria se deixada à natureza, não se resuma a um seguimento
cego do Direito Canônico, numa simplificação da realidade tão tacanha que só
poderia ser feita por homens.
Ao contrário, contudo, quando se coloca - como tentaram os anglicanos -
mulheres nesta hierarquia, elas a subvertem. Mas esta subversão, por ser feita
por mulheres que estão tentando agir como homens, faz com que a ordem direta e
simplificada dos homens tente acolher aspectos de diversidade que só a
misericórdia e a leitura multifacetada da realidade que é feita pela mulher
pode acolher e ordenar verdadeiramente. Estas mulheres que se querem
"bispas" ou "padras" tentam inserir na seca e feia ordem do
Direito Canônico aquilo que só pode florescer na ordem da Graça. O perdão se
torna legitimação formal, tratando masculinamente de algo que deve ser lidado
pelo feminino, pela Graça que nos vem das mãos da Mãe de Deus. E é daí que
surge uma negação da ordem natural e da ordem divina: das mulheres que querem
ser homens tomando o lugar da Medianeira de todas as Graças, e substituindo a
Graça pela legorréia masculinizada. Daí vêm os "bispos" sodomitas da
Comunhão Anglicana, daí vem a negação da Doutrina Cristã (tão seca quando
expressa masculinamente, tão rica quando vivida femininamente, como por Santa
Teresa d'Ávila ou Santa Terezinha!) que consiste em tornar lei escrita e formal
o amparo feminino que ocorreria ordenado na Graça divina.
Toda teologia, na verdade, é feminina. É feminina por tratar da Graça - que nos
vem pelas mãos da nossa Mãe -, é feminina por tratar do perdão - que ocorre por
intervenção da Mãe da Misericórdia -, é feminina por tratar de uma ordem infinitamente
complexa. Masculina é a sua expressão doutrinal, sua simplificação - que fez
com que São Tomás dissesse ser "palha" tudo o que escreveu ao
perceber a grandeza e a complexidade reais desta ordem, ao vislumbrá-la em
experiência mística -, sua expressão no dia a dia, em que - para que nós,
homens, tão bobos, sejamos capazes de operá-la - a Igreja, na sua sabedoria e
misericórdia, nos dá regras bem masculinas: rubricas, leis, regrinhas simples e
ordenações de como devem estar os dedos, os braços, as roupas.
Como a mulher que, carinhosa, vira para fora a gola que o marido distraído, ao
vestir a camisa, deixou dobrada para dentro, a Igreja diz como o padre deve
vestir os paramentos, o que deve dizer, em que posição deve ficar.
É por isso que a teologia feita por mulheres é uma teologia sumamente mística.
A teologia de Santa Teresa d'Ávila, por exemplo, quando comparada com a de São
João da Cruz - ambos contemporâneos, ambos místicos, ambos vivendo a mesma
experiência de Fé na mesma sociedade -, grita aos sete ventos a complexidade
sublime que aponta para a simplicidade total do Infinitamente Simples que é
Deus.
Mas esta teologia é uma teologia ortodoxa. É uma teologia que trata da vida da
Graça; sem os mapas(! - quer coisa mais masculina que mapas, em que o mundo
reduz sua complexidade a parcas linhas num papel?!) de São João da Cruz, sem as
simplificações que a mente de um homem precisa operar para apreender a
realidade.
Que diferença enorme que há entre isso e as patéticas demandas das feministas!
Enfiam mulheres nos presbitérios, negando-lhes a dignidade feminina e - na
melhor das hipóteses - tratando-as como molequinhos que a mãe penteou, com
risca no cabelo molhado e a camisa para dentro das calças, num sucedâneo triste
da complexíssima ordem feminina que, quando expressa numa mulher em botão - a
irmã do molequinho - irá se revelar na mecha de cabelo que cai caprichosa ou na
flor que orna um penteado de festa.
Padres e ministros são como os molequinhos arrumados pela Mãe carinhosa,
enfiados em roupas estranhas, com cabelos que boi lambeu, com as golas na
posição certa. São homens dominados pelo amor da Mãe.
Vê-los como "poderosos" é negar o poder real, o poder feminino da Mãe
Igreja. E enfiar mulheres entre eles só serve para diminuir as mulheres e
subverter a ordem feminina na sua expressão masculina.
Um exemplo triste disso é a infelizmente comum teatralização das leituras
litúrgicas, feita por senhoras bem-intencionadas que, creio, trabalham como
professoras. Elas leem com ênfases bizarras, como uma professorinha lê uma
redação de aluno, salientando palavras, tentando criar uma complexidade que vá
além da parca ordem masculina.
E com isso eliminam a ordem masculina, negando a ordem feminina que a orientou.
É como se o molequinho fosse forçado a usar uma flor nos cabelos: o que seria
beleza na irmã dele se torna humilhação. E os outros molequinhos fogem, e o
presbitério vai se tornando um espaço dominado por mulheres que querem ser
homens, pervertendo a ordem feminina que orienta a ordem masculina ao inventar
e enfeitar o que foi feito para resistir à grosseria e à hiper-simplificação do
homem.
Que nossa Mãe Puríssima nos ajude, para que a teologia siga sendo feminina,
para que a liturgia siga sendo ordenada de modo a permitir que os homens cumpram
seus papéis. Que os presbitérios voltem por toda parte a ser mesas de meninos
de cabelos repartidos e camisas para dentro das calças, arrumados pela Mãe, não
humilhados com flores no cabelo numa triste confusão entre o feminino e o
masculino.
Que Deus nos guarde das mulheres que negam sua condição excelsa e querem ser
homens!
[]s,
seu irmão em Cristo,
Carlos Ramalhete