O Que Virá
Pronto, aconteceu. O confronto aberto entre o neofascismo
que procura modificar toda a cultura ocidental, forçando a população a aceitar,
ou melhor, celebrar a homossexualidade, e um dos textos básicos da nossa
civilização finalmente teve o seu primeiro round.
Uma congregação protestante paulista publicou um outdoor
com as palavras “assim diz Deus”, seguidas de duas condenações bíblicas à
atividade homossexual e um chamado à conversão. Um juiz mandou retirá-lo. Uma
opinião minoritária surgida ainda dentro do tempo de vida da maior parte dos
leitores deste jornal ganhou na Justiça o direito de calar o texto que,
independentemente da crença de cada um, é inegavelmente parte fundamental e
inspiradora de no mínimo os últimos 2 mil anos da civilização a que pertencemos.
É um conflito ainda mais básico, é um choque ainda mais
radical que o que se poderia dar em relação a outra expressão desta mesma
crença. A Igreja Católica, por exemplo, ensina que a atividade homossexual (não
a tendência nem o desejo: a atividade) é um dos quatro crimes que bradam aos
céus por vingança, juntamente com o assassinato de um inocente, negar a um
trabalhador sua justa paga e oprimir o pobre.
Condenações semelhantes são feitas pelo budismo, pelo
judaísmo ortodoxo (que reconhece um dos trechos presentes no outdoor como
escritura sagrada), pelo Islã, pelo confucionismo, e por praticamente qualquer
cultura que jamais tenha sobrevivido a mais de um milênio.
O texto bíblico, contudo, é ainda mais essencial em nossa
civilização, mais básico em sua aceitação como palavra divina
incontestavelmente certa ao longo de 2 mil anos. É uma pedra fundamental da
sociedade ocidental que se vê negada, retirada à força, preterida em favor de
uma novidade, de uma opinião única recém-chegada e não aceita nem pela tradição
cultural da nossa e de outras civilizações nem pela imensa maioria da
população, mas que pelo jeito realmente se tornou obrigatória.
É Beethoven destronado por Lady Gaga, Michelangelo
destronado por Andy Warhol, a civilização destronada pela desconstrução de tudo
e pelo endeusamento do prazer sensível como fonte de identidade. É um
Judiciário que, ao invés de preservar a ordem, tenta construir algo que não se
sabe o que virá a ser; será possível que perdure uma sociedade que não tolera o
que a formou, uma sociedade intolerante da mesma “intolerância” que a erigiu e
que é opinião majoritária nela mesma?! Creio que não.
Carlos Ramalhete
Fonte: Gazeta do Povo