Para que Serve a Bíblia?
A Bíblia é o livro mais vendido, distribuído e impresso em toda a História da humanidade. O primeiro livro impresso no
Ocidente foi uma Bíblia.
Ora, cada livro tem
uma
utilidade. Um dicionário serve para que encontremos
o significado de palavras desconhecidas, um manual de instruções para que aprendamos
a fazer algo que não sabemos
fazer, um livro didático serve para que estudemos
por ele com o auxílio
de um professor,
etc.
E a Bíblia? Por incrível que pareça, esta é uma questão que é
simplesmente ignorada por muitos.
Fala-se da Bíblia, do que está escrito na Bíblia; diz-se
que devemos todos ler a Bíblia, fala-se do
valor da Bíblia, mas ninguém,
ou quase ninguém, se pergunta aquilo que é a primeira
pergunta que deveria ser
feita: para que serve a Bíblia?
Afinal, é justamente em função deste
fim que um livro tem valor. Um
manual de instruções só tem valor se contiver instruções que ensinem a fazer algo desconhecido, um dicionário
só tem valor por servir para que aprendamos palavras desconhecidas, etc. Um livro que não tivesse nenhuma serventia seria um livro sem valor algum.
Qual então será a
resposta a esta pergunta? Para que serve a Bíblia?
Antes de mais nada, precisamos perceber que a Bíblia não é nem poderia ser jamais um meio de salvação. Não é a Bíblia que nos salva, mas Nosso Senhor
Jesus Cristo. As palavras da
Bíblia também não podem ser necessárias para a nossa Salvação, como vemos na
própria Bíblia. O martírio
de
Santo
Estêvão
é narrado minuciosamente na
Bíblia (Atos 7,54-60),
mostrando de maneira
bastante clara a sua salvação. Quem segurou as
roupas dos que apedrejavam Santo Estêvão era um jovem chamado Saulo de Tarso, que depois
veio a converter-se e ser conhecido como São Paulo Apóstolo. Ora, o martírio (e a Salvação!) de Santo Estêvão
ocorreu antes que
São Paulo se convertesse, logo muito antes que ele escrevesse qualquer uma de suas cartas. Ocorreu antes que os
Evangelhos fossem escritos.
Ocorreu antes que os
Atos dos Apóstolos
fossem escritos, e muitíssimo antes que o Apocalipse de São João fosse escrito. Não havia nem uma só letra do Novo Testamento
escrita quando Santo Estêvão
foi
martirizado, e mesmo assim ele foi salvo. O Antigo Testamento já estava escrito,
mas uma Bíblia sem o Novo testamento
dificilmente poderia ser
chamada uma Bíblia!
Infelizmente muitos dos
ditos "crentes", ignorando
o claríssimo testemunho
da própria Bíblia, vêem a
Bíblia como necessária à Salvação, ou até como o meio de salvação.
Isto é um erro, e um erro de conseqüências graves.
A Bíblia não é um livro que uma pessoa ignorante
possa ler e entender,
menos ainda um manual de
instruções para a Fé. O primeiro papa, São Pedro, já
falava disso em sua segunda
Epístola: "em suas cartas (de São Paulo) há
alguns pontos difíceis
de entender, que os ignorantes
e vacilantes torcem, como fazem com as demais Escrituras, para a sua própria
perdição" (2 Pd 3,16).
Notem que ele diz que
os ignorantes
e vacilantes distorcem a Escritura, não os malvados.
A pessoa pode perfeitamente ser bem intencionada,
estar buscando a Deus e, por ignorância, distorcer (não entender,
entender errado) o sentido
do que está escrito
na Bíblia. E isto a leva à perdição,
a faz perder a Salvação.
Outro claro testemunho
de como a Bíblia não pode ser compreendida sem o auxílio da Tradição Oral nos vem em Atos 8,31, quando o eunuco que viajava lendo a Bíblia, ao ser interrogado por São Felipe, disse que não poderia
entender o que lá estava escrito,
pois não havia quem explicasse a ele.
É
por isso que São Paulo
já escrevia
aos Tessalonicenses, dizendo
a eles que guardassem tudo o que ele lhes ensinava,
oralmente ou por escrito (2 Tessalonicenses
2,15). Afinal, nem tudo o que ele ensinara
aos Tessalonicenses havia
sido ensinado por escrito,
como nós vemos em 2 Ts 2,5. A forma mais importante de transmissão da Verdade já era, naquele tempo, a
pregação oral, não escrita. Assim diz São Paulo a São Timóteo: "O que de mim ouviste na presença de muitas
testemunhas, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para ensiná-lo a outros" (2 Tm 2,2).
A
própria Bíblia nos lembra que nem tudo o que Cristo disse está lá registrado (Jo 20,30; Jo 21,25),
e São Paulo fala de coisas que Ele falou que
não estão registradas nos
Evangelhos: "Lembrai-vos das palavras
do Senhor Jesus, porquanto Ele mesmo disse: 'É maior ventura
dar que receber" (At 20,35). Estas palavras, evidentemente conhecidas pelos que
ouviam a São Paulo, não estão registradas em nenhum dos quatro Evangelhos!
Para que então serve a Bíblia?
Ela serve
para que as pessoas, lendo-a,
creiam em Cristo e busquem
a Igreja que Ele fundou. São João mesmo nos diz que Jesus fez muitos sinais que não se
acham escritos, mas que
os que foram escritos o foram para que creiamos que
Jesus é o Filho de Deus (Jo
20,30-31). Cristo disse a
seus seguidores que eles deveriam
ser um só rebanho, seguindo
um só pastor (Jo
10,1ss), e deste rebanho
Ele pediu a São Pedro que cuidasse (Jo 21,15-17). Ele declarou
que seus seguidores
falariam em Seu nome, e
que rejeitá-los seria rejeitar a Cristo (Lc 10,16). Na Bíblia vemos que a
Igreja (não a Bíblia!) é "coluna e fundamento
da Verdade" (1 Tm 3,15), vemos
que Ela é visível (Mt 5,14-16)
e que
é unida
por um só Batismo, uma só Fé e um só Senhor (Ef 4,5). Ora, a
única Igreja que foi
fundada por Cristo, está presente e visível no mundo inteiro,
tem a mesma Fé no mundo inteiro e
é governada pelos sucessores de São Pedro, sem interrupção, é a Igreja Católica Apostólica Romana.
Cada seita
protestante tem uma fé diferente
(umas consideram que é no sábado e outras no domingo
que se deve descansar; umas acreditam
em batismo de
crianças, outras só em batismo de adultos,
outras em vários batismos ou
até
em nenhum batismo); todas as
seitas protestantes são muitíssimo mais novas que a Igreja Católica, fundada por Cristo. Elas foram fundadas há no máximo 500 anos. Cada seita
protestante é governada por alguém que a fundou ou que foi escolhido
pelos seguidores da seita para
governá-los. Ora, isto prova que elas não são de modo algum a
Igreja de que a Bíblia fala, "coluna e fundamento
da Verdade", fora da qual não há Salvação.
A Bíblia, portanto, serve para que as pessoas creiam
e busquem a Igreja (Jo 21,30-31), para ajudar os cristãos a ter perseverança e
dar-nos consolação (Rm 15,4), para nossa instrução (1Cor 10,11) e para ajudar-nos
a instruir, refutar, corrigir e educar na justiça (2Tm 3,15-17). Tudo isso é objetivo
da Bíblia, mas não é a Bíblia sozinha que ensina (como vimos acima), mas
a Igreja, e a Bíblia não pode ser interpretada de modo particular por cada um
(2 Pd 1,20) para que por ignorância não entenda errado e assim se perca (2 Pd
3,16).
A Bíblia, assim, não é nem pode ser o ponto de partida para a fundação de uma Igreja, nem um meio de salvação, nem ainda o
único testemunho necessário no ensino da Doutrina que Cristo nos deixou
(2 Ts 2,15). A Igreja veio antes da Bíblia,
é sua Mãe e só a Igreja
pode nos explicar, como o
fez
o apóstolo (At 8,35), o seu significado correto.
Carlos Ramalhete