A respeito de Baruc, associado ao ministério de Jeremias,
temos notícias seguras no livro deste profeta, especialmente nos cc. 36,43,45.
Sabemos daqui que foi arrastado à
viva força pelos judeus rebeldes, juntamente com Jeremias, para o Egito (Jer
43,5-7), mas do confronto de Jer 44,28
com 45,5
podemos deduzir que mais tarde
retornou à Judéia, donde pôde ir à Babilônia para consolar os exilados. Ali,
efetivamente, o encontramos no início do pequeno livro que traz o seu nome.
Este compõe-se de três partes, nitidamente distintas:
1ª Prece pública, em prosa ritual (1,
1-3,8): a nação em peso reconhece
ter merecido tantas desgraças e o próprio exílio, por causa dos pecados
pessoais e dos antepassados; pede misericórdia e a cessação de tantos males.
2ª Elogio da sabedoria, em elevado estilo poético (3,9-4,4):
na lei divina, que é concretamente a
mais elevada sabedoria, está a verdadeira glória e felicidade de Israel; o
exílio foi causado pelo abandono da mesma; cumpre voltar à perfeita observância
da lei.
3ª Deplorada a amargura do exílio, anuncia-se a alegria do repatriamento
(4,5-5,9), em
prosa cadenciada, que, pelo fundo, recorda Is
40-66 e, pela forma, o estilo
de Jeremias, oscilando, freqüentemente entre a poesia e a prosa.
Como se vê, as três partes acham-se ligadas entre si pelo
fundo histórico do argumento e sucedem-se em certa ordem lógica. No tocante à
qualidade literária e à composição diferenciam-se, entretanto, notavelmente, de
sorte que o exame intrínseco não oferece razões decisivas que abonem a unidade
de autoria de todo o livro. O testemunho extrínseco, dado no texto 1,1,
para a atribuição a Baruc, vale
somente para a primeira parte, a qual está tão impregnada do fracasso de
Jeremias, que, negá-la ao secretário do profeta, é o que de mais irrazoável
possa haver.
Menos rica, mas não isenta de contatos com o livro de
Jeremias, é a terceira parte. Nada nos diz a respeito o belo poemeto central.
Todas as três partes foram originariamente escritas em
hebraico, entre 582 e 540 a.C, aproximadamente. Provam-no as numerosas alusões ao
exílio babilônico e os diversos equívocos das antigas versões, explicáveis
unicamente por uma leitura ou interpretação incorreta de uma palavra hebraica,
coisa que se nota igualmente em todas essas versões. O texto hebraico original,
porém, foi perdido. Para nós, toma-lhe o lugar a versão grega dos LXX. Em
segundo lugar vem a Pessitta siríaca, que também deriva do hebraico. Na Vulgata
temos uma antiga tradução latina feita à base do grego e não retocada por S. Jerônimo.
Os judeus da Palestina excluíram Baruc do rol dos livros
sagrados, e nisso foram seguidos também por alguns Padres da Igreja, na
antigüidade, e por todos os protestantes. Acolheram-no, ao invés, os judeus da diáspora,
anexando-o ao livro de Jeremias no volume dos profetas maiores. Desta crença e
costume tornou-se herdeira a Igreja cristã, razão por que vemos, desde o fim
do séc. II, os Padres Atenágoras, Irineu, Clemente Alexandrino, citarem as palavras
de Baruc com o nome de Jeremias. Nos cânones bíblicos das Igrejas do Oriente e
do Ocidente, nos séculos seguintes, o mais das vezes Baruc não é especificado
(como também as Lamentações), justamente porque compreendido com Jeremias. O cânon
do Tridentino nomeia-o expressamente: "Jeremias com Baruc". Destarte
elimina-se qualquer dúvida acerca do caráter divinamente inspirado deste opúsculo,
tão breve quão rico de doutrina, não lhe faltando mesmo algumas raras belezas
literárias.