PADRES APOSTÓLICOS e
PADRES DA IGREJA
Síntese: Aos que têm dúvida quanto à
veracidade da doutrina da Igreja Católica, ou de alguns de seus aspectos, ou
têm dificuldades para aceitar alguns de seus dogmas, sugerimos estudar a
patrística, a história do cristianismo e da igreja.
"Recomenda-se, por isso, vivamente que
os católicos se aproximem com mais freqüência destas riquezas espirituais dos
Padres do Oriente que levam o homem á contemplação das coisas divinas".
(Papa João Paulo II, Carta Apostólica Orientale Lumen, 1995.)
Quando dizemos “O Santo Padre” (no
singular), estamos falando do Papa; mas quando dizemos “Os Santos Padres” ou os
“Padres de Igreja”, estamos nos referindo àqueles famosos “mestres” da doutrina
e da fé que viveram nos primeiros séculos da Igreja. Eles foram os primeiros
“construtores” da Teologia, os guias ou “pais” na elaboração da doutrina da
Igreja. “Padres” quer dizer “pais”, geradores ou fontes. O período em que
viveram chama-se Patrística, e o estudo de sua vida e de suas obras leva o nome
de Patrologia.
A seguir damos outras características dos
Padres da Igreja.
1.Antiguidade: situam-se entre os séculos
segundo e oitavo.
2.Ortodoxia: sua doutrina é correta, aprovada pela Igreja.
3.Santidade de vida: são mestres e testemunhas da fé.
4.Aprovação: são reconhecidos pela Igreja como tais.
Por isso, Orígenes e Tertuliano não são
propriamente “Padres” da Igreja. São, antes, apologistas ou Escritores
Eclesiásticos. Sua doutrina teve alguns senões.
Outra expressão consagrada na Teologia e na
História da Igreja é “Padres Apostólicos”. São aqueles mestres famosos que
receberam a doutrina dos Apóstolos. Por exemplo: Inácio de Antioquia, Clemente
Romano, Policarpo. Estes são também tidos como Santos Padres.
OS PADRES APOSTÓLICOS
A geração
cristã que sucede aos apóstolos tem à sua frente bispos e presbíteros, entre os
quais se destacam algumas figuras, luminosas por sua santidade, sabedoria e
zelo doutrinal: os Padres Apostólicos.
Seus
escritos são muito parecidos com as epístolas do Novo Testamento. Procuram
mostrar aos fiéis a importância da salvação concedida por Cristo, reforçam a
esperança no seu retorno, exortam à obediência aos pastores das suas
comunidades e alertam para o risco das heresias e cismas.
São
eles: Clemente Romano, Inácio de Antioquia, Policarpo de Esmirna, Pápias de
Hierápolis, Barnabé e Hermas.
a)
Clemente Romano
Clemente
possuía, na sua época, grande autoridade, embora tenha sido conservado apenas
um escrito de sua autoria: a carta aos Coríntios. A Igreja na Síria atribuiu a
esta carta valor canônico, e o Codex Alexandrinus da Bíblia a incluiu entre os
livros inspirados. Em torno do ano 170 o bispo Dionísio de Corinto atesta a sua
leitura litúrgica.
Orígenes
e Eusébio identificam Clemente com o colaborador de Paulo citado em Fl 4,3. De
acordo com Santo Ireneu, ele foi o terceiro sucessor de Pedro em Roma (Pedro,
Lino, Anacleto, Clemente). Para Tertuliano, no entanto, Clemente recebeu a
Ordem diretamente do Príncipe dos Apóstolos.
O seu
exílio para o Quersoneso Taurino e o seu martírio no mar Negro não podem ser
considerados como fatos históricos.
A carta
aos Coríntios, de Clemente, foi redigida nos últimos anos de Domiciano
imperador (c. de 96). A razão de tal carta foram contendas naquela igreja.
Membros mais jovens da comunidade haviam deposto os presbíteros. Quando a
notícia chegou a Roma, Clemente interveio.
Nesta
carta podemos detectar já a presença e o exercício do carisma petrino. Com
autoridade, o bispo da Cidade Eterna exorta os coríntios a se submeterem aos
seus superiores eclesiásticos, exigindo que a estrutura hierárquica da Igreja
de Deus seja respeitada.
b)
Inácio de Antioquia
Bispo
da cidade de Antioquia, Inácio foi condenado, no reinado de Trajano, a ser
dilacerado pelas feras. Em seu trajeto para o martírio, da Síria até Roma,
escreveu sete cartas, para as igrejas de Éfeso, Magnésia, Trales, Roma,
Filadélfia, Esmirna, e para seu irmão no episcopado, Policarpo.
Para
Inácio, a eucaristia é "a carne de nosso Salvador Jesus Cristo, que sofreu
por nossos pecados e que, na sua bondade, o Pai ressuscitou". Ensina que
para a unidade da Igreja é fundamental a comunhão com a hierarquia: bispos,
presbíteros e diáconos.
Santo
Inácio utiliza, pela primeira vez, o termo "Igreja católica" para
designar a verdadeira Igreja de Jesus Cristo. "Onde aparece o bispo, aí
esteja a multidão, do mesmo modo que onde está Jesus Cristo, aí está a Igreja
católica". Distingue a comunidade de Roma dentre todas as demais. É ela a
igreja que "preside na região dos romanos, digna de Deus, digna de honra,
digna de ser chamada feliz, digna de louvor, digna de sucesso, digna de pureza,
que preside ao amor, que porta a lei de Cristo, que porta o nome do
Pai..." Lá os apóstolos Pedro e Paulo selaram seu testemunho. Em Roma se
encontra o autêntico magistério da fé.
Seu
martírio ocorreu por volta do ano 110.
c)
Policarpo de Esmirna
Policarpo
chegou a conhecer o apóstolo João, que o constituiu bispo de Esmirna. Em meados
do século I tentou fazer um acordo, em Roma, com o papa Aniceto, sobre o dia da
celebração litúrgica da festa da Páscoa (primeira controvérsia quartodecimana).
O heresiarca Marcião, ao encontrá-lo, perguntou ao santo se o conhecia.
Policarpo respondeu: "Sim, eu te conheço. És o primogênito de
Satanás". De acordo com o testemunho de Santo Ireneu, Policarpo escreveu
várias epístolas a diversas comunidades e a bispos em particular. A única que
nos chegou foi a remetida para a igreja de Filipos.
O
Martírio de São Policarpo é a mais antiga narrativa de um martírio de que se
tem notícia. Não se pode duvidar de sua autenticidade. Em um de seus trechos
mais belos, o santo bispo recebe a ordem de amaldiçoar Jesus Cristo. Policarpo
responde: "Há oitenta e seis anos que o sirvo; jamais ele me fez mal
algum; como poderei eu blasfemar contra meu Rei e Salvador?" Quando as
chamas da fogueira milagrosamente se desviavam do seu corpo, teve de ser morto
com uma punhalada. E. Schwartz acredita que a morte de Policarpo se deu no dia
22 de fevereiro de 156.
Seus
ossos foram recolhidos por fiéis, "mais valiosos que pedras
preciosíssimas, mais apreciados que o ouro, e os sepultaram num lugar
apropriado, onde se poderiam reunir eles em cada aniversário" - evidência
de um culto de relíquias ainda em estado embrionário.
d)
Pápias de Hierápolis
Pápias
conheceu o apóstolo João e foi companheiro de São Policarpo. Bispo de
Hierápolis, redigiu cinco livros relatando ensinamentos e atos de Jesus e dos
que o seguiam (cerca de 130).
Eusébio,
em sua História Eclesiástica, chama Pápias de espírito mesquinho, por causa de
suas inclinações milenaristas. Da obra de Pápias só restam alguns fragmentos,
um dos quais fala da origem dos evangelhos de Mateus e Marcos.
e)
Barnabé
Na
verdade a única referência que temos sobre este Barnabé é uma epístola.
Clemente Alexandrino, Orígenes e a tradição em geral, atribuem esta epístola ao
Barnabé companheiro de São Paulo. Eusébio de Cesaréia e Jerônimo consideram o
documento como apócrifo.
A
primeira parte do escrito fala sobre o Antigo Testamento e analisa as várias
prefigurações do Cristo. A segunda, no estilo da Didaqué, expõe a doutrina das
duas vias, a da luz e a das trevas.
Provavelmente
o seu autor era um mestre gentio convertido. A composição da carta não tem data
certa. Possivelmente depois do ano 130.
f)
Hermas
Hermas
era um comerciante de condição simples, cristão, com uma visão um pouco
estreita, mas sincero e piedoso. Para Eusébio e Orígenes, tratava-se do mesmo
Hermas referido por São Paulo em Rm 16,14.
Sua
única obra conhecida é chamada de o Pastor de Hermas. Seguindo o modelo dos
apocalipses judaicos, é uma exortação forte à penitência que utiliza muitas
imagens misteriosas. Afirma a possibilidade de haver perdão dos pecados após o
batismo, embora por tempo limitado. Contradizendo muitos autores antigos,
Hermas considera lícito um novo matrimônio depois da viuvez.
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Os
Padres da Igreja, grandes representantes do cristianismo dos primeiros séculos,
explorarão as riquezas da Escritura e da Tradição para expor, fundamentar e
aprofundar a fé. Fazem parte da história e tradição do cristianismo, história na
qual a igreja católica foi se formando inseparável até os dias de hoje e da
qual, as escrituras (palavra escrita) e sua fiel interpretação (palavra oral),
são conseqüências lógicas insubstituíveis por contarem com a promessa divina de
Jesus: ‘convosco estarei até o fim dos tempos’.