Um pecado mortal, sete anos de Purgatório
Por cada pecado mortal perdoado, uma alma precisaria
passar, em média, por sete anos no Purgatório. Conheça esta e outras revelações
recebidas por duas místicas da Igreja Católica.
Pe. François Xavier SchouppeTradução: Equipe Christo
Nihil Praeponere22 de Janeiro de 2018
Aprouve a Deus mostrar em espírito as sombrias moradas do
Purgatório a algumas almas privilegiadas, as quais revelariam os mistérios
dolorosos que aí se passavam para a edificação dos fiéis [1].
Foi deste número a ilustre Santa Francisca, fundadora das
Oblatas, que morreu em Roma, a 9 de março de 1440. Deus a favoreceu com grandes
luzes a respeito do estado das almas na outra vida. Ela viu o Inferno e os seus
horríveis tormentos; viu também o interior do Purgatório e a ordem misteriosa —
quase como uma “hierarquia de expiações” — que reina nesta parte da Igreja de
Jesus Cristo.
“Santa
Francisca Romana dando esmolas”, de Giovanni Battista Gaulli.
Em obediência a seus superiores, que se viram obrigados a
lhe imporem esta obrigação, ela deu a conhecer tudo quanto Deus lhe havia
manifestado; e suas visões, escritas a pedido do venerável cônego Matteotti,
seu diretor espiritual, gozam de toda a autenticidade que se pode desejar
nessas matérias.
A serva de Deus declara que, depois de ter suportado com
horror indescritível a visão do Inferno, saiu daquele abismo e foi conduzida
por seu guia celestial até as regiões do Purgatório. Ali não reinava nem o
terror nem a desordem, nem o desespero nem a escuridão eterna; ali a esperança
divina difundia sua luz, de modo que, como lhe disseram, este lugar de
purificação também era chamado de “estadia de esperança”. Ela viu ali almas que
sofriam cruelmente, mas anjos as visitavam e assistiam em seus sofrimentos.
O Purgatório, ela dizia, é dividido em três partes
distintas, que são como que as três grandes províncias daquele reino de
sofrimento. Elas estão situadas uma abaixo da outra, e são ocupadas por almas
de diferentes ordens, estando estas mais profundamente submersas quanto mais
contaminadas e distantes estiverem da hora de sua libertação.
Santa Francisca Romana viu no Purgatório almas que
sofriam cruelmente, mas os anjos de Deus as visitavam e assistiam em seus
sofrimentos.
A região mais baixa é repleta de um fogo violento, mas
não tão obscuro quanto o do Inferno; trata-se de um vasto mar de fogo, do qual
são expelidas chamas imensas. Inumeráveis almas encontram-se mergulhadas nessas
profundezas: são aquelas que se tornaram culpadas de pecados mortais, devidamente
confessados, mas não suficientemente expiados em vida. A serva de Deus então
aprendeu que, por cada pecado mortal perdoado, resta à alma culpada passar por
um sofrimento de sete anos [2]. Esse prazo não pode evidentemente ser encarado
como uma medida definitiva, mas como uma pena média, já que pecados mortais
diferem em enormidade. Ainda que as almas estejam envoltas pelas mesmas chamas,
seus sofrimentos não são os mesmos: eles variam de acordo com o número e a
natureza dos pecados cometidos.
Neste Purgatório mais baixo a santa notou a presença de
leigos e de pessoas consagradas a Deus. Os leigos eram aqueles que, depois de
uma vida de pecado, tiveram a alegria de se converterem sinceramente; as
pessoas consagradas a Deus eram aquelas que não haviam vivido de acordo com a
santidade do seu estado de vida.
Naquele mesmo momento, ela viu descer a alma de um
sacerdote conhecido dela, mas cujo nome ela não revela: o padre tinha a face
coberta com um véu que escondia uma mancha. Embora tenha levado uma vida
edificante, este padre não havia sempre observado com rigor a virtude da
temperança, tendo procurado mui ardentemente as satisfações da mesa.
Por cada pecado mortal perdoado, resta à alma culpada
passar por um sofrimento de, em média, sete anos no Purgatório.
A santa foi conduzida então ao Purgatório intermediário,
destinado para as almas que haviam merecido um castigo menos rigoroso. Aí havia
três distintos compartimentos: um que lembrava um imenso calabouço de gelo,
cujo frio era indescritivelmente intenso; o segundo, ao contrário, era como um
grande caldeirão de óleo e massa fervente; o terceiro tinha a aparência de um
lago de metal líquido semelhante a ouro ou prata fundidos.
O alto Purgatório, que a santa não descreve, é a morada
temporária das almas que menos sofrem — com exceção da pena de perda [3] —, e
estão muito próximas do feliz momento de sua libertação.
Tal é, em substância, a visão de Santa Francisca Romana
relativa ao Purgatório.
O que segue, agora, é um registro de Santa Maria Madalena
de Pazzi, uma carmelita de Florença, tal como vai relatado em sua biografia,
escrita pelo Pe. Cepare. Sua revelação dá uma figura mais completa do
Purgatório, ao passo que a visão precedente não faz senão traçar os seus
contornos.
Santa Maria Madalena de Pazzi, em uma pintura de Pedro de Moya.
Algum tempo antes de sua morte, que aconteceu em 1607, a
serva de Deus, M.ª Madalena de Pazzi, estando uma noite com várias outras
religiosas no jardim do convento, foi arrebatada em êxtase e viu o Purgatório
aberto diante de si. Ao mesmo tempo, como ela deu a conhecer depois, uma voz
lhe fez o convite para visitar todas as prisões da Justiça divina e contemplar
como são verdadeiramente dignas de compaixão todas as almas detidas neste
lugar.
Neste momento, ouviu-se ela dizer: “Sim, eu irei”,
consentindo em empreender esta dolorosa jornada. De fato, ela caminhou por duas
horas em torno do jardim, o qual era muito grande, fazendo pausas de tempos em
tempos. A cada vez que interrompia o passo, ela contemplava atentamente os
sofrimentos que lhe eram mostrados. Ela foi vista, então, apertando com força
as mãos e pedindo compaixão, seu rosto tornou-se pálido e seu corpo curvou-se
sob o peso do sofrimento, em presença do terrível espetáculo com o qual ela se
confrontava.
A santa começou a lamentar em alta voz: “Misericórdia,
meu Senhor, misericórdia! Descei, ó Sangue Precioso, e libertai estas almas de
sua prisão. Pobres almas! Sofreis tão cruelmente e, no entanto, estais tão
contentes e alegres. Os cárceres dos mártires, em comparação com estes, eram
jardins de deleite. Não obstante, existem outros ainda mais profundos. Quão
feliz sorte seria a minha, se não fosse obrigada a descer para estes lugares!”
“Pobres almas! Sofreis tão cruelmente e, no entanto,
estais tão contentes e alegres.”
Ela desceu, no entanto, porque foi forçada a continuar
seu caminho. Tendo dado alguns passos, porém, ela parou aterrorizada e,
suspirando, gritou: “Quê? Até religiosos nesta morada sombria! Bom Deus, como
eles são atormentados! Ah, Senhor!” A santa não explica a natureza dos
sofrimentos que tinha diante dos olhos, mas o horror que ela manifestava ao
contemplá-los fazia com que ela suspirasse a cada passo que dava.
Daí ela passou a lugares menos obscuros. Eram as prisões
das almas simples e de crianças nas quais a ignorância e a falta de razão
extenuaram muitas faltas. Seus tormentos pareciam à santa muito mais
suportáveis que os das outras pessoas. Nada havia ali a não ser gelo e fogo.
Ela notou que estas almas tinham consigo seus anjos da guarda, os quais as
fortificavam enormemente com sua presença; mas ela também via demônios cujas
formas pavorosas faziam aumentar seus sofrimentos.
Avançando um pouco mais o passo, ela viu almas ainda mais
desafortunadas, e ouviu-se ela gritar: “Ó, quão horrível é este lugar! Ele é
cheio de demônios horrendos e tormentos inacreditáveis! Quem, ó meu Senhor, são
as vítimas dessas cruéis torturas? Ai! Elas estão sendo perfuradas com espadas
afiadas, elas estão sendo cortadas em pedaços.” Foi-lhe revelado, então, que
aquelas eram as almas cuja conduta havia sido contaminada pela hipocrisia.
Avançando um pouco, ela viu uma grande multidão de almas
que eram feridas, por assim dizer, e esmagadas sob uma prensa; e ela entendeu
que aquelas eram as almas que se haviam apegado à impaciência e à desobediência
durante suas vidas. Ao contemplá-las, os olhares, os suspiros e toda a atitude
da santa exprimiam compaixão e terror.
O cárcere das almas que haviam se manchado com a impureza
era tão sujo e pestilento, que a visão deu náuseas a Santa Madalena de Pazzi.
Um momento depois sua agitação aumentou, e a santa soltou
um grito terrível. Era o cárcere dos mentirosos que agora se abria diante dela.
Depois de o considerar atentamente, ela gritou bem alto: “Os mentirosos são
confinados em um lugar na vizinhança do Inferno, e seus sofrimentos são
excessivamente grandes. Chumbo fundido é derramado dentro de suas bocas; eu os
vejo queimar e, ao mesmo tempo, tremer de frio.”
Ela foi então à prisão daquelas almas que haviam pecado
por fraqueza, e ouviu-se ela exclamar: “Ai! Eu havia pensado que os encontraria
entre aqueles que haviam pecado por ignorância, mas eu me enganei; vós queimais
com um fogo mais intenso.”
Mais adiante, ela observou almas que se haviam apegado
demais aos bens deste mundo e haviam pecado por avareza. “Que cegueira”, ela
disse, “ter buscado tão ardentemente uma fortuna perecível! Aqueles a quem as
riquezas não puderam saciar o suficiente aqui são devorados com tormentos. Eles
se fundem como metal na fornalha ardente.”
Daí ela passou ao lugar onde as almas aprisionadas haviam
se manchado com a impureza. Ela as viu em um cárcere tão sujo e pestilento que
a visão lhe deu náuseas, e ela imediatamente deu as costas àquele espetáculo
repugnante. Vendo os ambiciosos e os orgulhosos, ela disse: “Vede aqueles que
quiseram brilhar diante dos homens! Agora estão condenados a viver nesta
escuridão pavorosa.”
Foram-lhe mostradas, então, aquelas almas que haviam sido
culpadas de ingratidão para com Deus. Elas eram vítimas de tormentos
indescritíveis e afogadas, por assim dizer, em um lago de chumbo fundido, por
haver feito secar, com sua ingratidão, a fonte da piedade.
Muitas almas no Purgatório tinham consigo seus anjos da
guarda, que as fortificavam enormemente com sua presença; mas havia também
demônios cujas formas pavorosas faziam aumentar seus sofrimentos.
Finalmente, em um último cárcere, foram-lhe mostradas as
almas que não se tinham dado a nenhum vício em particular, mas que, por falta
da devida vigilância sobre si mesmas, cometeram todo tipo de faltas triviais. A
santa notou que estas almas tomavam parte nos castigos de todos os vícios, em
um grau moderado, porque as faltas que elas cometeram apenas de tempos em tempos
tornaram-nas menos culpadas do que aqueles que as tinham cometido
habitualmente.
Após esta última estação, a santa deixou o jardim,
implorando a Deus que nunca mais a fizesse testemunha de um espetáculo tão
desolador: ela sentia que não tinha forças para suportá-lo.
Seu êxtase continuou, no entanto, e conversando com Jesus
ela falou: “Dizei-me, Senhor, qual era o vosso desígnio em descobrir-me aquelas
terríveis prisões, das quais eu sabia tão pouco e agora compreendo ainda menos?
Ah, agora eu vejo: quisestes dar-me o conhecimento de vossa infinita santidade
e fazer-me detestar cada vez mais a mínima mancha de pecado, tão abominável aos
vossos olhos.”
Referências
Extraído
e levemente adaptado da obra “Purgatory: Explained by the Lives and Legends of the Saints” (c. VI), Londres: Burns
& Oates, 1893, pp. 11-16.
Notas
Vale a pena
recordar aquilo que ensina o Catecismo da Igreja Católica a respeito de
revelações como estas: “No decurso dos séculos houve revelações denominadas
‘privadas’, e algumas delas têm sido reconhecidas pela autoridade da Igreja. Elas
não pertencem, contudo, ao depósito da fé. A função delas não é ‘melhorar’ ou
‘completar’ a Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a viver dela com mais
plenitude em determinada época da história. Guiado pelo Magistério da Igreja, o
senso dos fiéis sabe discernir e acolher o que nessas revelações constitui um
apelo autêntico de Cristo ou de seus santos à Igreja.” (§ 67)
Importante
frisar: o título desta matéria diz respeito aos pecados mortais devidamente
confessados, dos quais a alma, antes de morrer, efetivamente se arrependeu.
Caso contrário, a pena devida por eles não é o Purgatório, mas o Inferno.
“A pena de
perda consiste em estar privado, por um tempo, da visão de Deus, que é o
supremo Bem, o fim beatífico para o qual foram feitas as nossas almas, assim
como nossos olhos são para a luz. É um desejo ardente (moral thirst, lit.,
‘sede moral’) que atormenta a alma.” (“Purgatory...”, p. 24)