O
LIVRE ARBÍTRIO É INDISPENSÁVEL PARA AMAR A DEUS
3 de dezembro
de 2016
Para compreender que
o livre arbítrio manteve-se intacto após a queda, é mister distinguir razão, vontade
e operação.
Qualquer
Bem que o ser humano escolhe realizar, através da razão e da vontade, ele não
consegue praticar por mérito próprio, mas pela Graça de Deus. Por isso, a
incapacidade de realizar não pode ser confundida com a falta de liberdade para
escolher, como ensinou o Apóstolo:
“Eu sei
que em mim, isto é, na minha carne, não habita o Bem, PORQUE O QUERER O BEM
ESTÁ EM MIM, MAS NÃO SOU CAPAZ DE EFETUÁ-LO.” (Rom 7,18)"
Neste
sentido é que não se deve confundir o livre ARBÍTRIO com a livre AGÊNCIA, como
faz a teologia dos calvinistas.
A
incapacidade de operar não retira a liberdade de escolha, posto que os seres
racionais foram por Deus dotados de razão e vontade, e não somente de instinto.
A escolha
é dada àqueles que possuem, pela razão, a capacidade de exercer um juízo ainda
que superficial de opção.
Orígenes
ensina que livre arbítrio “é uma FACULDADE DA RAZÃO, pela qual se pode DISCERNIR
O BEM E O MAL, e da VONTADE pela qual se pode ESCOLHER um ou outro. (De
Principiis, anos 258)”
Conforme
está Escrito:
“Olha
que HOJE PONHO DIANTE DE TI, a vida com o BEM, e a morte com o MAL. (Dt 30,
15)”
A liberdade
da razão está em poder discernir e, na vontade, em poder buscar, estando a
GRAÇA DE DEUS em realizar em consórcio com o indivíduo todo Bem que este discernir
pela razão e o quer pela vontade. (Jr. 13, 23; Ef
2,1-10; Rom
3,9-18; Cl 2,13; Tt 3.3-5 e outros)
Assim
fora Escrito: - “Somos obra sua, criados em Jesus Cristo PARA AS BOAS AÇÕES,
QUE DEUS DE ANTEMÃO PREPAROU PARA QUE NÓS AS PRATICÁSSEMOS.” (Efésios 2, 10)
Ao indivíduo
é impossível realizar qualquer Bem em mérito próprio no estado de pecado no
qual se encontra. Da mesma forma, Deus realizar nele qualquer Bem sem o seu consórcio
e participação pela vontade e razão não livraria esse indivíduo do estado de
condenação.
Cristo
não quis apenas merecer por nós, mas nos tornar merecedores por participação
nos Méritos Dele.
Neste
contexto, o livre arbítrio não é incompatível com a ONIPOTÊNCIA DE DEUS, antes,
a Onipotência atua e age no indivíduo por meio da liberdade conferida na razão
e vontade humana, ordenando-as à Perfeição e ao Bem Supremo que é a salvação.
Santo
Agostinho leciona (354-430): - “Julgas que a paixão seja mais poderosa que a
razão, pela qual por Lei Eterna nos foi dado o domínio sobre todas as paixões? De
modo algum, pois caso fosse, seria a NEGAÇÃO DA ORDEM PERFEITA de Deus, em que
o maior domine sobre o menor. Então haverás de hesitar em colocar as virtudes
acima dos vícios? (Do Livre Arbítrio, Cap. 10. p. 25)”
E
ainda: - “não há nenhuma outra realidade que torna a mente cúmplice da paixão,
a não ser a própria vontade E O LIVRE ARBÍTRIO. (Do Livre Arbítrio, p. 55. Cap.12)”
Arremata
Santo Tomás: - “Como já disse antes (Q 81, ª 3 ad. 2), o apetite sensitivo,
embora obediente à razão, pode contudo, recalcitrar, desejando o que a razão
proíbe. O bem que o homem não faz quando quer é o que consiste em ser
concupiscente contra a razão (Suma Teológica, art. 1º Q 83 – Se o homem tem
Livre Arbítrio)”
O ato
de livre arbítrio é o prévio exame, certo juízo ainda que superficial entre no
mínimo duas realidades distintas. Se o ser humano não fosse apto em discernir
entre essas realidades, em vão então teria sido preservada a razão, após a
queda no pecado.
O pecado
não entrou no mundo por outro pecado, mas pelo livre arbítrio. O pecado não tem
causa em si mesmo, mas na liberdade, que agiu na razão e na vontade dos nossos
primeiros pais. (Gn 3)
Mas se,
outrora, nos foi dada liberdade para escolher sair do estado de justiça para o
pecado, como negar que Deus não preservou essa liberdade, para que
participássemos do plano de exclusão do pecado, e retorno ao estado de justiça?
Esclareceu
Santo Agostinho: - “Logo, já é para ti uma certeza bem definida haver Deus
concedido ao homem esse Dom. (Deus é o Autor do Livre Arbítrio, p. 36 Cap. 1)”
E
consta nas Escrituras:
“Vede.
PONHO-VOS HOJE BENÇÃO ou MALDIÇÃO.” (DT 11, 26)”
A
liberdade do arbítrio supõe ainda a dignidade do Juízo de Deus sobre a
humanidade, pois se não houvesse livre escolha entre o erro e a Virtude, não
haveria justa causa para recompensa ou castigo.
Ensina novamente
Santo Agostinho: - “se o homem carecesse do livre arbítrio da vontade, como
poderia existir o Bem da Justiça, condenando os pecadores, e premiando as boas
ações? A conduta desse homem não seria pecado, nem boa ação, caso não fosse
voluntária. O castigo, como a recompensa, seria injusto se o homem não fosse
dotado da vontade livre. (Livro II – Cap. I p. 39, Deus é o Autor do Livre
Arbítrio)”
E Santo
Tomás de Aquino: - “O homem tem livre arbítrio, do contrário, seriam inúteis os
conselhos, as exortações, os preceitos, as proibições, os prêmios e as penas. O
homem age com discernimento, pois pela Virtude da razão, discerne o que deve
buscar e o que deve evitar. (Suma Teológica, art. 1° Q 83. Do Livre Arbítrio)”
O mover
de Deus é, simultaneamente, causa e efeito da vontade e da razão humana.
É causa
por ter lhe dado o livre arbítrio; e efeito por atuar nessa razão e nessa
vontade, que escolhe e discerne o Bem, para assim, realizar por ação Divina, o
Bem propriamente dito.
ELE é a
causa de todo Bem que se ele realiza no ser, sem que este ser tenha que se despir
do livre arbítrio entre o bem e o mal.
Pela
vontade livre, o homem se coloca à disposição de Deus para realização do Bem.
O livre
arbítrio implica no livre discernir da razão, e contrapõe-se à inclinação dos atos
humanos à imperfeição, por efeito da natureza pecaminosa.
A razão
ou intelecto importa na possibilidade de exercer juízo valorativo sobre
malefício e benefício.
E por
ser o ato humano natural, desprovido da Graça, penderá à prática do pecado,
ainda que a vontade e/ou a razão não consintam. Por isso, diz-se que perdera a livre
agência, mas não o livre arbítrio.
O homem
não perdeu, com a queda, a capacidade em discernir entre o mal e o bem, podendo
sua vontade ainda buscar fazer o Bem, como está escrito:
“APARTE-SE
DO MAL e faça o Bem, BUSQUE a paz e siga-a.” (1Pe 3, 11)
Mas o
Bem que se executa, só é possível no ato que traz Deus como meta principal e finalística:
- “ vós outros estáveis mortos por vossas faltas, pelos pecados que cometestes
outrora seguindo o modo de viver deste mundo, do príncipe das potestades do ar,
do espírito que agora atua nos rebeldes. (Efésios 2. 1, 2)”
Livre
arbítrio não é Virtude Operativa, e sim cognitiva e volitiva.
Todo bem
que vem de Deus se realiza na vontade humana.
E o
mover de Deus é, simultaneamente, causa da vontade humana por lhe ter dado a
livre escolha, como também causa do Bem que na vontade humana Ele realiza.
A
limitação do ser humano pelo pecado consistiu na incapacidade de realizar o
Bem, sem recorrer ao auxílio da Graça Divina.
Na
visão aristotélica, o Bem que o ser discerne e quer realizar, não logra êxito
sair da potência para o ato.
Noutra
mira, todo ato finalístico do ser humano tem como meta amar a Deus sobre todas
as coisas.
E o
Amor Perfeito é ato livre, posto que não se consegue ser amado ou amar mediante
coação, sendo que qualquer coação empregada para amar, não visa o Amor
Perfeito, mas o puro egoísmo.
O amor
de Deus é Perfeito, e sendo Perfeito, não aniquilou a liberdade humana na qual
se realiza.
Nando
Gomes
Fonte: A
fé católica nas escrituras.