A força
da Igreja no mundo moderno
Gregorio Vivanco Lopes
No próximo 3 de outubro transcorrerão 21 anos do falecimento
do insigne batalhador católico Plinio Corrêa de Oliveira, fundador da TFP, cujo
nome ilustra o conhecido Instituto Plinio Corrêa de Oliveira (IPCO).
Providencialmente chegou-me às mãos um pequeno texto por ele
escrito, e publicado também em 3 de outubro, mas do ano de 1937. Portanto, há
79 anos, quando o autor tinha apenas 28 anos de idade. Impressiona o fato de
que, nessa jovem idade, sua convicção sobre a força da Igreja Católica no mundo
moderno já estava totalmente formada e alicerçada.
Instituição divina, fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo, a
Igreja é capaz de vencer quaisquer adversários que se lhe opuserem, por mais
frágil que ela humanamente estiver — eis seu pensamento cheio de admirável fé.
Pensamento corroborado, aliás, por dois milênios de vida da Igreja, em que esta
enfrentou terríveis batalhas, em condições frequentemente desfavoráveis, e
saiu-se vitoriosa. Os erros e mesmo as defecções na parte humana da Igreja, que
a enfraquecem aos olhos dos homens, em nada afetam a imortalidade que lhe foi
prometida por seu Divino Fundador.
Mas vamos ao texto do Prof. Plinio. Para compreendê-lo
convém ter em vista as circunstâncias em que foi redigido. Estávamos a apenas
dois anos de distância da futura eclosão da segunda guerra mundial, quando já
fermentavam os fatores que viriam a produzi-la. Na Itália, o fascismo
pressionava o Papa.
“Mussolini queria fechá-la [a Ação Católica], Pio XI não
queria consentir. [...] Parecia certo aos espíritos prudentes, amantes da
Itália católica e tradicional, que a Igreja deveria, a todo o custo, evitar a
luta com o fascismo. Para eles, a Igreja era fraca demais para agir com
independência”. Pio XI, porém, “atacou o fascismo muito de frente e muito de
rijo”.
Gaudioso com essa atitude do Papa, Plinio Corrêa de Oliveira
prossegue:
“A Igreja é bastante forte para nunca silenciar perante o
erro, ainda mesmo quando, humanamente, ela se apresenta mais destituída de
vigor. Sua força não está, essencialmente, no fascismo, no exército ou até na
própria Ação Católica. Sua força é Nosso Senhor Jesus Cristo, e só Ele. Ainda
mesmo que Pio XI tivesse de enfrentar o fascismo e o comunismo simultaneamente,
e ainda que estivesse tão desarmado quanto São Leão perante Átila, ele nada
teria a recear” (“Legionário”, 3-10-1937).
Tal posição de enfrentamento contra os erros da época, ele a
reafirmaria muito tempo depois, em 1959, na sua obra-mestra “Revolução e
Contra-Revolução”. Referindo-se às vitoriosas batalhas travadas pela Santa Igreja
desde sua fundação, a elas aplica a poética passagem de Cícero (Familiares,
12,25,5):
“‘Alios ego vidi ventos; alias prospexi animo procellas’
(Eu já vi outros ventos e contemplei outras tempestades), poderia ela dizer,
ufana e tranquila, em meio às tormentas por que passa hoje. A Igreja já lutou
em outras terras, com adversários oriundos de outras gentes, e por certo
enfrentará ainda, até o fim dos tempos, problemas e inimigos bem diversos dos
de hoje”.
Palavras proféticas. Neste século XXI, em que vemos os
inimigos instalados dentro da própria Igreja, um homem de pouca fé diria estar
tudo perdido. A cidadela foi tomada! Desconhecem eles a força que advém à
Igreja de seu Divino Fundador.
* * *
Tais reflexões são muito importantes hoje em dia, quando a
secularização dos costumes e das leis faz a mídia alardear uma real diminuição
do número de católicos e um enfraquecimento da influência da Igreja na
sociedade. A insinuação é de que ela agoniza.
Pior ainda. Muitos dos mais altos dirigentes eclesiásticos,
em lugar de afirmar os direitos de Jesus Cristo e da Igreja, parecem ver no
diálogo com o mundo, e as consequentes concessões aos erros da época, a única
tábua de salvação para a instituição que representam. Sem falar nos que aderem
decididamente aos piores desvios e costumes que nos assaltam. Timidez ou
cumplicidade, não entro no mérito. Mesmo entre os que querem permanecer fiéis,
a atitude muitas vezes é a de quem teme as consequências de uma posição firme e
desassombrada.
Com o Profeta Jeremias poderíamos lamentar: “Como se
escureceu o ouro, como se alterou o ouro fino! Foram dispersadas as pedras
sagradas por todos os cantos da rua” (Lam 4,1)
Não se trata, evidentemente, de menosprezar os valores da
diplomacia, e muito menos os da misericórdia, que a Igreja sempre utilizou com
tato requintado. Mas uma diplomacia e uma misericórdia que não têm atrás de si
uma fé católica segura, uma convicção firme, e conforme o caso uma disposição
de defender a todo preço princípios doutrinários imprescritíveis, mais se assemelha
à moleza, quando não ao entreguismo.
Uma fé combativa que floresce na esperança, mesmo nas
situações mais difíceis, essa é a lição que nos deixa Plinio Corrêa de
Oliveira, e que Nossa Senhora não pode deixar de abençoar.
Gregorio Vivanco Lopes é advogado e
colaborador da ABIM
Fonte: Agência Boa
Imprensa – (ABIM)