É possível o
casamento perpétuo?
Sergio Sebold
Economista e Professor Independente
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O grande entrave para um bom casamento
consagrado são as questões culturais, sociais e a fé dos jovens quando estão se
preparando para uma vida em comum. A grande maioria, envolvidos por uma
atmosfera hedonista, de consumismo e contradições morais, disseminada pela
televisão, não tem noção do belíssimo significado do mistério da vida. Entram
nesta muito mais como uma oportunidade do prazer pelo sexo do que um
compromisso moral de deixar descendência.
Ao longo de uma vida a dois, quando surgem
certas atitudes do jogo de esconde-esconde por um ou ambos nos seus
relacionamentos, é mau sinal; começa a ser o princípio do fim. A linguagem
deixa de ser livre e aberta de forma espontânea entre ambos. É um sintoma que
ambos (em geral) não foram devidamente preparados para este passo da vida cheio
de mistérios e contradições.
Esconder algo do outro, ou os dois, de manter
certas atitudes (entre outras bebidas, jogo, atitudes individualistas e
egoístas) é abrir um abismo entre eles, é permitir que eles comecem se afastar,
psicológica e emocionalmente um do outro em ritmo de conta gotas. Crescem os
casos atuais em decorrência das facilidades geradas pela Internet, onde um e/ou
outro ficam até tarde da noite cultivando amizades pelas redes sociais, até
mesmo na vida real, o que não pode ser feito na frente um do outro. São na
imensa maioria casos de amizades secretas, escondidas, que acabam na
infidelidade.
Há outras formas como a de abrir conta
bancária, sem que o outro saiba; quando ambos têm carro próprio é outra grande
oportunidade. O automóvel é um agente oportuníssimo pela facilidade que se oferece
de estar um longe do outro nestes momentos. Surge assim a “necessidade” de
mentir, enganar, fazer jogo de palavras, inventar desculpas num processo que
termina no abismo existencial da vida. Começa-se a perder a transparência, a
confiança tão necessária para uma vida harmoniosa de amor.
É importante dizer que os filhos (quando
ainda os há) na sua pura inocência estão percebendo qualquer ato desonroso que
um ou outro esteja fazendo. Para suas personalidades em formação isto é
terrível no longo prazo. A família é um teatro vivo, sem script, um projeto em
construção por duas pessoas que se amam, homem e mulher.
Há uma falácia materializante hoje, de
primeiro adquirir tudo em termos de conforto antes de assumirem o “sim”. O
verdadeiro encanto matrimonial está no fato de que todos os problemas e
desafios devem ser resolvidos e construídos em conjunto. De maneira humilde. Isto
sim dá uma formidável força de um amor duradouro e fecundo para toda a vida.
A beleza do relacionamento é quando os dois
vivem um para o outro exclusivamente, numa paz espiritual e muita alegria, com
o objetivo centrado no compromisso moral de deixar sua própria descendência: os
filhos. O prazer pelo sexo é o ingrediente hormonal necessário para a vida,
quando praticado com dignidade e honradez; sem isso não estaríamos aqui.
Para os que têm consciência cristã, uma
primeira dica - em nosso entender primordial - rezar juntos, diariamente
antes de dormir. Não importa a fórmula. Mesmo na vida atribulada este momento
sempre haverá. Este procedimento, alem dos valores teológicos cristãos, levam a
uma paz interior para ambos os cônjuges indescritível.
Mesmo em condições profissionais adversas,
deve haver um compromisso de sempre dormir no mesmo horário. Nunca se deve deitar
sem estar em paz um com outro. Vejam-se como uma só carne, os dois são templos
do Espírito Santo. Busquem doar-se sempre, amem-se.
A solidez da união se mantém quando há um diálogo
permanente e constante, numa via de mão dupla. Não guardar segredos. Quando um
fala, por mais banal que seja o assunto, ouça. Ambos estão aprendendo e se
fortalecendo na confiança do amor. A vida em comum só é possível em total
compartilhamento (*).
Todo o ser humano é uma individualidade
ontológica. Respeitar o espaço do outro é essencial. Embora seja preciso estar
sempre aberto um com o outro, há momentos de silêncio reflexivo necessário.
Pode ser um hobby, atividade de lazer, ou mesmo ficar quieto num canto, ler um
livro, assistir um programa de TV específico; isto serve como um processo de
desintoxicar emocionalmente as pessoas. Neste particular deve-se respeitar um
ao outro. Ambos têm suas personalidades inerentes ao seu gênero, gostos,
preferências individuais, sonhos, fantasias. Entretanto este espaço não pode
ser invocado para se alienar da família ou a interesses egoístas.
Quando o casal está plenamente focado em seus
objetivos, não há espaços para divergências significativas. Por exemplo, número
e educação dos filhos, adquirir uma casa, automóvel, uma viagem. Os objetivos
claros fixados em comum é uma tarefa que une o casal.
Uma última proposta é respeitar e honrar a
pessoa do cônjuge. Isso importa louvá-los pelas suas boas ações; não permitir
que falem mal dele e mesmo não criticá-lo para outra pessoa. Marido que honra
sua mulher, a ouve, se sacrifica por ela. A mulher que honra seu marido
demonstra confiança inabalável em sua liderança.
Uma família saudável, onde prevaleça ternura
em vez da violência, doação em vez do interesse, harmonia em vez da agressão;
mais compreensão, tolerância e amor; nestes padrões ela se torna indestrutível.
No final na “viagem”, dirão: valeu a pena. Obrigado meu Deus.
(*) Veja http://www.pr.gonet.biz/kb_read.php?pref=htm&num=3445
Oração
Senhor
Jesus, fonte de toda graça para a vida matrimonial na dignidade sacramental,
dá-nos o entendimento pleno da grandeza do sagrado matrimônio. Não permitas
Jesus, que por falta de um entendimento suficiente da grandeza do matrimônio,
por Ti instituído, venhamos a banalizá-lo ou depreciá-lo. Dá-nos a graça de
entender que o que uniste não pode ser separado, porque é Sacramento sagrado.
Ajuda-nos Senhor a não virarmos objetos frágeis nas garras do sistema social
vigente que empurra a todos para essa máquina ‘faminta’ de prazer irresponsável
e que não produz felicidade verdadeira. Abençoa Jesus, as pessoas que
contraíram o Sacramento do Matrimônio. Ajuda-os a viverem na graça do amor
verdadeiro, na fidelidade e na harmonia. Coloca-os a salvo de todas as ciladas
do Maligno, que só quer destruir, incitando-os à infidelidade. Que os lares por
Ti formados, possam contar também com a tenacidade, a força, o empenho e a
persistência dos casais em viver em estado de graça, que garante a fidelidade
sempre. Que os casais alimentem cada vez mais, um pelo outro, uma grande
compaixão. A verdade e a retidão sejam a base de relacionamentos afetivos e
efetivos realmente sólidos e maduros. Abençoai Senhor, os casais, para que um
veja no outro a Tua insubstituível presença. Que as famílias sejam cada vez
mais um terreno fértil para o desenvolvimento da santidade do casal e dos
filhos. Amém.
Pe.
Renato dos Santos, SDB.
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(28/09/15) Atualizado