O perigo da ditadura das minorias
SANTOS, Ivanaldo.
O perigo da ditadura das minorias. In: Coyote, Natal, julho/agosto de
2015, p. 10.
Ivanaldo Santos ([email protected])
Filósofo
“A minoria organizada afronta a maioria desorganizada”
(Gaetano Mosca).
Um dos modelos políticos que mais cresceu e tem
defensores é a democracia. Ela não é o modelo político perfeito e ideal. Muito
provavelmente, nos próximos séculos, o ser humano deverá desenvolver outro
modelo político mais adequado para as necessidades humanas. Também não se pode
cair no romantismo de achar que a democracia é justa e faz justiça. A história
dos processos e modelos democráticos demonstram que ela está repleta de erros e
imperfeições; um caso clássico desses erros é a famosa passagem bíblica onde
Pôncio Pilatos pergunta a uma assembleia democrática se essa mesma assembleia preferia
soltar o criminoso Barrabás ou Jesus Cristo, o Messias. A assembleia escolheu
soltar o criminoso e mandou para a morte um inocente.
No entanto, a sociedade contemporânea, do ponto de
vista formal e jurídico, é democrática. A democracia pressupõe a participação
dos cidadãos e, por conseguinte, a escolha, o desejo da maioria, mesmo que a
maioria escolha algo que não é exatamente ético ou o correto, como no caso da
assembleia presidida por Pôncio Pilatos.
A sociedade contemporânea corre o risco de ver a
democracia ser superada por outro modelo político; mas não um modelo melhor,
mais aprimorado. Trata-se de superar a democracia por uma espécie de ditadura
das minorias.
É preciso esclarecer que sempre existiram minorias na
humanidade e que, por vários fatores, as minorias são necessárias para a
sociedade. Tradicionalmente as minorias funcionam como uma espécie de consciência
e de visão crítica dentro da sociedade; elas apontam falhas, demonstram pontos
onde é preciso a estrutura social passar por um processo de aperfeiçoamento.
O problema é que vemos atualmente minorias (grupos de
defesa do aborto, da união homossexual, de uma intervenção autoritária do
Estado na vida das pessoas, etc.) que se autoproclamam de esclarecidas, de
vanguarda cultural, dotadas de conceitos e teorias que definitivamente
explicariam o ser humano e a sociedade. Essas minorias são agressivas, não toleram
questionamentos, gostam de se fazer de vítimas (se autoproclamam discriminadas,
etc.), mas discriminam a maioria da população, acusam, muitas vezes sem provas,
a maioria da população de ser preconceituosa, conservadora, fascista e, diante
de grupos religiosos e especialmente dos cristãos, acusam esses grupos de serem
fundamentalistas. Essas minorias não querem saber de eleições e nem de discutir
o que a maioria democrática da população pensa ou deseja. O que essas minorias querem
é criar leis para que seus próprios desejos e vontades sejam obedecidos, criar amplas
e milionárias campanhas nas mídias para divulgar suas ideias e seu estilo de
vida, criticar e até mesmo demonizar qualquer expressão da maioria da população
que critique suas ideias e vontades, e conseguir amplos e milionários
patrocínios de empresas privadas e do Estado (o governo) para continuar
transmitindo para os cidadãos sua visão de mundo.
O mais grave é que essas minorias são super bem
organizadas, contam com amplos financiamentos vindos do exterior (de fundações
multimilionárias), com amplo apoio nas mídias e nas redes sociais, com apoio
dentro de setores estratégicos do Estado, de empresas privadas e até mesmo
dentro da Igreja. Essas minorias trazem ao cenário político a realidade da
frase de Gaetano Mosca, quando afirma: “A minoria organizada afronta a maioria
desorganizada”. O futuro da democracia, do país e da existência das maiorias
está em jogo. É possível ser criado um sistema jurídico onde apenas uma minoria
de esclarecidos, os novos Iluminat, irão decidir toda a vida e o destino
das pessoas. Será uma espécie de ditadura perfeita, talvez mais perfeita que a
ditadura sonhada pelos regimes totalitários do século XX (Nazismo e
Socialismo). Por isso, é preciso questionar o poder que as minorias têm na
sociedade contemporânea. É preciso que as maiorias se organizem e procurem
expor e lutar por suas ideias e valores.