Construindo
os valores na família
Sergio Sebold
Economista e Professor Independente
Quem já teve a oportunidade de ter seus
próprios filhos, supondo com amor, desejo, há uma sensação imensa de alegria, sobretudo
do mistério de existir; tal qual uma cópia perfeita de nós mesmos que vem se
repetindo a milhares e talvez milhões de anos. Passados os primeiros momentos
deste momento mágico, singular e misterioso desse novo membro em família,
começam as preocupações naturais de mantê-los vivos, saudáveis, fortes, tarefa
árdua e necessária para se garantir as gerações. Para nosso consolo, todas as
espécies vivas têm a mesmíssima preocupação. Garantir a perpetuidade da
espécie.
É inegável pelo lado fisiológico da amamentação
que a mãe é o lado fundamental neste processo geracional. Assim ela começa a se
comunicar imediatamente, tanto pelo seio materno, como pelos cuidados cruciais
do bebê, pelo acalentamento, pela higiene etc. Começa também a estimulação das
funções sensoriais, como a visão, a audição, o toque das primeiras comunicações
mãe-filho. Na medida do tempo, iniciam-se também os primeiros cuidados e
orientações sobre os riscos da vida, os cuidados, os “não faça isso, não faça
aquilo”. Tudo isso para assegurar a sobrevivência. À medida que a criança evolui
surgem as primeiras ordens da transcendência (por exemplo, anjinhos), da
fisiologia (controle da micção), do comportamento social (identificação do pai,
mãe, irmãos...), da estética, do espaço..., do certo e do errado pelo lado
moral. Tudo isso vai sendo armazenado em sua consciência e memória que serão as
balizas para o resto de sua existência. Aqui está a chave crucial da
civilização. Dependendo do que estes novos pais receberam de seus genitores e
assumiram, isso será repassado para sua prole. Numa concepção de ordem moral, significará
o sucesso, a melhora, ou o fracasso do futuro existencial em termos de
segurança e paz social.
As mães, pelo simples fato de cuidarem da
higiene dos filhos, como banho, troca de roupa etc., vão incutindo certos
valores, em que nem tudo pode ser feito diante dos outros, por uma questão de segurança
e um conceito de respeito ao seu próprio corpo, na linguagem cristã, templo do
Espírito Santo. Estas pequenas ordens os remetem a uma noção do bem e do mal,
do feio e do belo, da verdade e da mentira, para sua própria sobrevivência num mundo
social conflitivo.
Segundo a tradição cristã, a família é o altar
sagrado da vida dos filhos. É neste altar que um Deus maravilhoso nos dá o dom
da vida. Marido e mulher constituídos pelo sagrado matrimônio são as colunas
mestras que dão sustentação a este sólido edifício chamado família. Família e
sociedade que não têm por valores absolutos a voz do Evangelho, não conseguirão
viver em plenitude. A Família é o primeiro Santuário da vida. É nele que se
forma a coluna vertebral da honestidade, da justiça, da solidariedade, da
transparência, da retidão e das boas ações.
É no sadio ambiente familiar onde se cristaliza
o espírito que deve dar sentido à vida. Pelo lado da fé cristã, o batismo
executado com carinho, amor e desvelo da mãe, incute nos filhos as primeiras
ideias do sobrenatural, do transcendente. Mais forte ainda quando os pais
diante das imagens de Cristo crucificado e mesmo de Maria Santíssima, recitam
em conjunto o rosário ou orações durante as refeições. Esses momentos ficam gravados
na memória dos filhos, com a força de um “ferro quente” sobre a existência de
um Deus e do mistério da eternidade que jamais se apagará pelo resto de suas
existências.
Nesta formação da personalidade, as histórias
contadas pelos pais sobre casos de heroísmo e confiança, pautarão seu modo de
ser, pensar, agir no futuro serão verdadeiras armaduras nas horas difíceis que
enfrentarão no correr de suas existências. O capricho, as exigências de ordem
doméstica no trato de seus recursos materiais e outros cuidados, a composição das
cores em formação estética, incutem nas crianças ideias sobre príncipes e princesas
para entender a composição hierárquica social, onde não se deixarão subjugar
por paixões desordenadas. Tudo tem uma razão objetiva de ser.
A história tem marcado um grande momento que historiadores
chamaram de Renascimento: a reforma protestante. “Mas que renascimento? -, só
se for do paganismo” (*), como tem dito Pe. David Francisquini. Chegamos ao
ponto de as crianças de hoje sequer aprenderem as orações fundamentais da fé.
Crianças que mais tarde trilharão os caminhos opostos à própria razão onde
domina o relativismo moral; querendo viver sem leis ou limites, onde prazer, drogas,
prostituição serão as saídas desesperadas para conflitos existenciais.
“Não haverá resgate da dimensão sagrada da
sociedade se não houver o resgate da dimensão sagrada da família. Família e
sociedade que não têm por valores absolutos os valores do Evangelho, não
conseguirão viver em plenitude”. Pe. Renato dos Santos – Salesiano de Dom Bosco
* Veja nosso artigo “
A volta do paganismo” publicado em 04/03/2013