PERGUNTE E RESPONDEREMOS 527/Maio 2006
Maria Santíssima
SER
PARA MARIA UM OUTRO JESUS
A
devoção a Maria SSma., especialmente praticada no mês de maio, é muitas vezes
mal entendida, como se fosse mariolatria. Na verdade, porém, ela decorre de uma
compreensão exata e bíblica do que é ser cristão.
Com
efeito, São Paulo nos diz que fomos predestinados a ser conformes à imagem do
Primogênito Cristo Jesus (Rm 8, 29). Isto significa que toda a piedade e a ascese
do cristão devem tender a fazer do cristão um outro
Cristo; nossa espiritualidade é cristocêntrica, pois fomos, desde toda a eternidade,
concebidos pelo Pai em Cristo como portadores da marca de Cristo. Afirma também
o Apóstolo: "Todos vós que fostes batizados,
revestistes o
Cristo'' (Gl 3,
27). Revestir, para os antigos, é mais do que trajar uma peça de roupa; é fazer
o papel... no caso: fazer às vezes do Cristo.
Ora
no coração de Jesus havia dois sentimentos fundamentais: um olhar afetuoso para
o Pai, que O gerara como Deus desde toda a eternidade (sem prioridade de tempo)
e outro olhar filial para Maria, de quem recebera todo o seu ser humano (sem
interferência do varão). Jesus falava freqüentemente do Pai que o enviara; e
ainda no fim de sua vida terrestre mostrou-se solícito para com sua Mãe entregando-a
aos cuidados de João, filho de Zebedeu e
Salomé.
Por
conseguinte no cristão configurado a Cristo devem existir igualmente estes
dois sentimentos: um olhar para o Pai, para quem se dirige toda a vida cristã
mediante o Filho no Espírito Santo, e um olhar para Maria, Mãe de Jesus e Mãe
nossa (cf. Jo 19, 25-27). Assim a piedade mariana
redunda naturalmente do cristocentrismo da vida cristã,
quanto mais o cristão for outro Jesus, tanto mais deverá saber que é filho de
Maria. Com outras palavras: a piedade mariana não
é um acréscimo feito às devoções do cristão (como seria a devoção a Santo Onofre
ou Santa Bárbara), mas está incluída dentro da noção de
ser cristão. Daí a formulação sintética e correta: "Ser cristão implica
'tornar-se para Maria um outro Jesus' ou 'tornar-se um outro Jesus, consciente
de sua filiação mariana’.
Estas
verdades se tornam claras a quem aprofunda o estudo do Novo Testamento. É o que
fez a Comissão Teológica Anglicano-Católica nos últimos anos, chegando à
seguinte conclusão publicada aos 20/05/2005 pelo Pontifício Conselho para a
Unidade dos Cristãos:
"Afirmamos
juntos que Maria tem um ministério permanente ao serviço do ministério de
Cristo, nosso único Mediador: Maria e os Santos oram por toda a Igreja e a
prática de pedir a Maria e aos Santos que orem por nós não é um fator de
divisão da comunhão" (n° 78).
Possam
estas palavras contribuir para unir entre si os irmãos separados sob a tutela
da Mãe do Céu! Como outrora em
Canã ela dizia a seu Filho:
"Eles não têm mais vinho" (Jo 2, 3), ela ainda em nossos tempos Lhe
diz: "Eles não têm mais... E, como em Canã, Jesus saberá manifestar sua
glória (Jo2,11).
E.B.