De Presbiteriano a
Católico, a Vitória da Coerência
Ex-Protestante:
De Presbiteriano a Católico com muita Convicção, ao Ponto de Morrer por essa
Igreja
Meu nome é Marcos J. Siqueira. Eu era presbiteriano, até me converter ao Catolicismo. Não sei se conseguirei contar tudo aqui. Na
verdade meu interesse pelo Catolicismo começou quase na mesma época em que
comecei a considerar a hipótese de entrar para o seminário (presbiteriano).
Sempre gostei muito de teologia, de estudar as Sagradas Escrituras, a História
da Igreja e via nisso um sinal, uma espécie de chamado/vocação. Amava com
sinceridade minha denominação e lá eu tive contato com muita literatura
teológica e a cada dia eu tomava mais gosto pelo estudo, pelo conhecimento e é
claro, pela oração.
O
Presbiterianismo se baseia principalmente nas doutrinas formuladas por João
Calvino que, junto com Martinho Lutero, é um dos maiores expoentes da chamada
Reforma Protestante. Calvino era virulentamente anticatólico e seus escritos
são quase todos voltados ao ataque à Igreja Católica. Eu gostava muito desses
escritos, principalmente pelo fato de que pareciam, em princípio, serem todos “fielmente”
baseados na Bíblia, o que mais tarde descobri não ser verdade. Apesar de gostar
muito dessas leituras, o ataque quase obsessivo ao Catolicismo me incomodava
embora nesta época eu ainda nem sonhasse em um dia me tornar católico.
Incomodava-me mais, pela obsessão, pela tentativa contumaz de (tentar) destruir
as bases sob as quais se assentam a Igreja Católica.
Lembro
que mais ou menos nesta época (2002/2003) recebi, vindos da Espanha, dezenas de
livros para a formação de pastores, todos obviamente escritos em espanhol, o
que de certa forma foi ótimo, pois nesse período pude aperfeiçoar meus estudos
desta língua o que me é extremamente útil hoje em dia. Fiquei encantado,
comecei a ler muito e a cada dia crescia em mim a vontade de servir mais e
melhor a Deus. Sempre que podia eu dirigia os cultos, pregava, ensinava e tudo
isso convencido de que fazia a vontade de Deus. Confesso que eu diferia um
pouco dos demais membros do chamado “Conselho de presbíteros”, primeiro porque
eu era um simples leigo, nem diácono, nem “presbítero’, era apenas um aspirante
ao seminário que estudava muito e que na verdade, modéstia a parte, se
interessava mais do que o próprio pastor pelo bem-estar da igreja. Nem preciso
dizer que isso começou a gerar um certo desconforto, ciúmes talvez ou talvez
inveja, na verdade não sei, nem posso afirmar, já que intenção só quem pode
julgar é Deus Nosso Senhor. De qualquer forma dei uma recuada e tentei passar
mais desapercebido, mas não consegui. Fomos convidados ( eu e minha família) a
ocuparmos o apartamento pertencente à igreja e como na época eu tinha que arcar
com as despesas de um aluguel nada barato eu acabei concordando e nos mudamos
em seguida. Creio que este episódio foi o começo da grande reviravolta que
minha vida sofreria, em todos os aspectos.
No
começo tudo correu bem e eu tinha pedido muito a Deus que isso acontecesse, era
um novo começo e uma ótima oportunidade de conseguir o que eu mais queria: ingressar
no seminário.
Mas
as coisas não correram bem como eu esperava, fazemos os planos, mas a palavra
final pertence à Deus certo?
Posso
afirmar que meus primeiros contatos, ainda muito tímidos, com o Catolicismo
começaram depois da Semana Santa do ano de 2003, aliás, o ano de 2003 foi um
tanto conturbado para mim em todos os sentidos.
Aos
poucos fui percebendo o que não pude deixar de qualificar como certa
“má-vontade” por parte do Conselho em relação à minha entrada para o seminário;
a alegação era que a igreja não podia arcar com as despesas (de fato muito
altas), mas a verdade era outra e eu a descobriria posteriormente.
Provavelmente
não deve haver alguém mais aficionado em livros e em feiras de livros e “sebos’
do que eu. Na verdade, uma das minhas diversões prediletas é fazer aquilo que
eu apelidei de “garimpo literário”, ou seja, procurar exaustivamente, em meio a
dezenas, centenas de livros, algo que me interesse. No ano de 2003 minha
garimpagem foi particularmente imensa, já que eu estava de certa forma “de pés
e mãos amarrados” aguardando a resposta do “Conselho” quanto à minha ida ou não
ao seminário. Aos poucos, fui perdendo a paciência e comecei a ponderar sobre a
possibilidade de estudar em outro seminário, não necessariamente ligado à
Igreja Presbiteriana, embora eu soubesse que não conseguiria ir muito longe, já
que a mesma só aceita (ou pelo menos só aceitava) pastores formados em seu
seminário. De qualquer forma, minhas leituras estavam me dando uma visão mais
aberta, mais livre do pensamento fechado de Calvino e isso se revelou a mim
como uma verdadeira primavera.
UM CALVINISTA ECUMÊNICO?
Posso
dizer, sem medo de errar, que eu era um verdadeiro presbiteriano e que admirava
e aderia com toda a sinceridade às suas doutrinas, tanto que acabava me
aborrecendo constantemente na igreja que eu frequentava, já que a mesma
caminhava a passos largos para o que eu posso definir como um “processo de
pentecostalização”. Eu já frequentei – por pouco tempo – a Assembléia de Deus e
a Igreja Pentecostal de Nova Vida, nas duas passei pouco tempo, não me
acostumava com tantos “dons” e para ser sincero não acreditava que todas
aquelas manifestações pudessem suportar uma crítica mais profunda, baseada nas
Escrituras. Na verdade minha ida para uma “igreja histórica” se deu justamente
por essas razões. Eu procurava algo mais fiel às Escrituras e não um festival
de pirotecnia pseudo-espiritual. Não era a toa que eu estava me aborrecendo com
os rumos que minha igreja ia tomando. Conversava com o pastor, mas este pouco
me ouvia, não me censurava, mas também não coibia os abusos que iam cada vez
mais se multiplicando. Aos poucos fui amadurecendo a idéia de entrar em outro
seminário. A inércia do “Conselho” e a minha sede de conhecimento de Deus me
fizeram tomar uma decisão e acabei me matriculando no seminário Peniel que na
época (não sei agora) era um seminário interdenominacional, ou seja, poderia
ser cursado por crentes de qualquer denominação. Me empolguei mas fiquei um dia
só. Meu pastor interveio, primeiro mandou que eu desistisse (deste e do nosso
seminário!) e me sugeriu que fizesse História já que eu havia manifesto à ele
este antigo desejo que eu nutria desde minha infância. Nossa! que decepção! Foi
terrível para mim, foi uma espécie de resposta não oficial do conselho e caiu
como um balde de água fria sobre a minha cabeça. chorei muito, muitos dias.
Chegou
enfim o dia da reunião do Conselho. Aqueles senhores sentados diante de mim e
eu meio chateado, meio esperançoso aguardando uma resposta que fosse ela qual
fosse, seria para mim um grande alívio. Pois bem, chegou a hora e dentre os
presentes (cinco ou seis) quase todos se posicionaram contrários à minha
reivindicação, sendo que um deles alegou que eu era “muito católico”. Ah! E
sabe por que ele disse isso? Bem, é justamente ai que entra a Semana Santa de
2003. Na sexta-feira santa deste ano, eu propus ao nosso pastor que
realizássemos um culto com “santa ceia” e que fizéssemos uma “liturgia” mais
sóbria, sem músicas agitadas e só com o coral e pedi a ele que me deixasse
dirigir o culto. Ele em princípio titubeou um pouco mas acabei convencendo-o. Fiz
isso por dois motivos, em primeiro lugar para levar o povo a uma meditação mais
profunda na dolorosa Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e em segundo lugar
porque lendo um livro antiquíssimo chamado “Peregrinação de Etéria”, descobri
que a comemoração da chamada Sexta-Feira da Paixão é uma prática que remonta
aos primitivos cristãos: séculos III e IV!!! Então, percebi que não era uma “invenção”
da Igreja Católica mas uma prática bimilenar! Quem quiser conhecer este livro,
aqui está:
http://www.veritatis.com.br/article/3805
Pois
bem, o culto foi realizado e fiquei muito feliz! As pessoas pareciam mais
piedosas e o pastor pregou enfim sobre a Paixão e Morte de Nosso Senhor e a
santa ceia foi celebrada de forma muito bela. Infelizmente poucos gostaram e
isso atentou contra mim, até o fim. Depois deste culto senti que não era o
mesmo. Claro que ainda lia os “mestres da Reforma”, mas minha mente e meu
coração já haviam mudado significativamente.
Até
então eu não me referi em momento algum a questões pessoais e nem vou fazê-lo,
mesmo porque minha saída da Igreja Presbiteriana não se deu por questões deste
porte e muito menos minha conversão ao Catolicismo. Digo isto porque alguns
pensam, e muitos pensaram à época, que tudo se deu por conta de desavenças
pessoais, o que , diante de Deus eu nego, pois simplesmente não foi. Além do
que eu poderia ter ido para outra denominação e, bem, vamos continuar: voltando
à reunião do Conselho, acabaram, sabe-se lá porque concordando com que eu
fizesse a prova e me deram o dinheiro da matrícula no “vestibular”.
Sinceramente eu não esperava isso, o clima frio e nada cordial que me cercava
na igreja não prenunciava uma decisão como essa, no entanto dei graças a Deus e
decidi esperar.
Trabalho
aqui no centro do Rio de Janeiro. Um lugar tumultuado e cheio de gente, mas
também muito belo e muito rico em obras de arte,monumentos e museus. Nem
preciso dizer o quanto aprecio essas coisas. As igrejas (templos) então… Sempre
as achei belíssimas (e de fato são, belíssimas, lindas! eu evitava entrar nelas
mas não posso negar que me atraíam.
Ainda
nesta época a questão das imagens me incomodava muito, bastante, embora eu já
houvesse lido muitos argumentos a favor como por exemplo este, do papa Gregório
Magno: “Tu não devias quebrar o que foi colocado nas Igrejas não para ser
adorado, mas simplesmente para ser venerado. Uma coisa é adorar uma imagem,
outra coisa é aprender, mediante essa imagem, a quem se dirigem as tuas preces.
O que a Escritura é para aqueles que sabem ler, a imagem o é para os ignorantes;
mediante essas imagens aprendem o caminho a seguir. A imagem é o livro daqueles
que não sabem ler” (epist. XI 13 PL 77, 1128c).
Ora,
eu havia aprendido no meio evangélico (não só na presbiteriana, mas em todas as
igrejas-seitas) que o Catolicismo promovia a idolatria e que adoravam imagens e
principalmente a Virgem Maria. Resolvi então descobrir por mim mesmo pois, se
assim fosse, isso seria abominável e mesmo satânico. Pois bem, este texto que
transcrevi acima é apenas uma pequena amostra dos muitos outros que pouco a
pouco foram me fazendo mudar de idéia. Resolvi ler o CIC (Catecismo da Igreja
Católica), ensino oficial da mesma sobre o assunto.
Claro
que hoje compreendo bem o porquê e o para que das imagens, mas não pense que
foi fácil, na verdade, foi uma luta terrível, eu queria – e quero – fazer a
vontade de Deus e por isso buscava-O intensamente, precisava saber o que fazer!
Em relação á este assunto, uma das descobertas mais formidáveis que fiz foi a
de que os cristãos, ainda no tempo das grandes perseguições, já utilizavam
imagens! Nossa! Isso caiu como uma bomba sobre minha cabeça já um tanto
atordoada. Foi uma descoberta que me desconcertou e então resolvi deixar de
lutar contra a minha consciência. Claro que não sai correndo e enchi minha casa
de imagens de tudo o que é santo, não era essa a questão e isso nem era
importante, ter ou não as imagens, mesmo para a Igreja Católica é algo
secundário e não fundamental. O que se precisa deixar claro, isso sim, é a
finalidade que damos a elas, como as utilizamos. Ah! Aqui está o link com as
imagens da Igreja primitiva: http://praelio.blogspot.com/2009/02/igreja-primitiva-x-protestantismo.html
Pois
bem, a questão das imagens estava superada. Depois descobri que nem mesmo
Lutero dava muita importância para elas, além do que, inúmeras igrejas
protestantes possuem imagens em seus templos. Fiquei feliz ao perceber que
havia superado esta questão, mas ao mesmo tempo me via cada vez mais desafiado
pela Igreja, tantas descobertas feitas e eu ainda sem saber ao certo o que
fazer ou como agir, afinal eu tinha uma convicção plena de que queria ser
pastor, eu não me imaginava fazendo outra coisa, não me via em outro ofício
senão o de cuidar das pessoas e ensinar à elas o caminho para Deus.
MINHA ESPOSA E A MISSA.
Ainda
não havia falado sobre minha esposa! Bem, ela me acompanhou em todos os
momentos, desde minha crise inicial até a nossa recepção “oficial” na Igreja
Católica. Também ela via em mim um potencial, sabia de minha “vocação”, de meu
“chamado” e me dava muita força, embora andasse um tanto quanto descontente com
a forma como era conduzida a nossa igreja. Eu sempre conversei franca e
abertamente com ela e nunca, em momento algum lhe escondi minhas hesitações;
ela, no entanto ponderava e pedia que eu refletisse, tivesse muita calma e,
sobretudo orasse com sinceridade por uma resposta. Até então a sua opinião
acerca da Igreja Católica não diferia em nada da maioria dos evangélicos:
idolatria e heresias, adoração à Maria etc.
Lembro
bem de quando tive a primeira noção do que era a Santa Missa, a Divina
Eucaristia. Até então, tudo o que eu sabia sobre isso era fruto de minhas
leituras de Lutero, Calvino e demais autores protestantes: John Stott, Martin
Lloyd-Jones e outros não tão conhecidos. Claro que, devido a esta formação eu
pensava ser a Santa missa uma blasfêmia, uma sacrílega “repetição” do
Sacrifício Único do Calvário, obviamente era uma noção errada ao extremo; mas
infelizmente eu não tinha quem me esclarecesse, até então…
Aqui
no Centro do Rio de Janeiro, existe uma igreja belíssima dedicada à São Basílio
Magno que é um dos chamados “Santos Padres”, primeiros teólogos da Igreja –
aqui você pode conhecer um pouco mais sobre eles: http://cocp.veritatis.com.br/
Bem,
não sei se você sabe, mas a Igreja Católica possui diversos ritos diferentes e
esta pequena igreja adota o rito melquita, que é um rito oriental por isso sua
arquitetura é toda ela “orientalizada”, cheia de ícones, turíbulos e um altar
belíssimo. Pois bem, certa vez, indo para o meu trabalho resolvi passar por
esta igreja para ver se ela estava aberta, já que sempre que eu passava estava
fechada, por ser ainda muito cedo. Neste dia, porém, providencialmente, ela
estava aberta e dentro havia um padre de batina preta, barba longa, que me
olhou curioso ao ver que eu havia entrado na Igreja àquela hora como se
procurasse por algo (e bem que eu procurava!). Ele veio então falar comigo,
perguntou se eu era católico e eu disse que não, que era presbiteriano e
expliquei à ele onde ficava a nossa “catedral”, aliás ali bem perto. Ele me
disse já ter entrado lá para apreciar a arquitetura (a catedral presbiteriana é
em estilo gótico). Eu confesso que fiquei sem graça, meio sem jeito para
conversar com ele até que ele me perguntou se eu não gostaria de ir um dia à
Missa ali na sua igreja. Eu fiquei sem reação e disse que sim, que iria sim e
ele me disse assim: Venha sim, mas infelizmente você não poderá participar da
comunhão. Eu não tinha idéia do quanto aquilo significava mas consenti e fui
embora, não sem antes ser abraçado fortemente por este sacerdote e (devido aos
seus costumes orientais – ele não era brasileiro) ter ganho dois beijos no
rosto! Achei engraçado e acolhedor, além do que suas palavras mexeram comigo.
Pronto: aguçada minha curiosidade e tocado pela Graça de Nosso Senhor fui atrás
de uma melhor explicação:
Afinal, o que é a Missa, o que é
Eucaristia?
Pode-se dizer que a “santa ceia” celebrada pela grande maioria
dos evangélicos e protestantes é na verdade fruto do entendimento daquilo que
Lutero ( e ainda mais Calvino) entendiam ter sido a última Ceia de N.S.J.C. com
seus apóstolos. Lutero passou boa parte de sua vida tentando “destruir” a Missa
e Calvino dizia ser esta um sacrilégio, uma blasfêmia. Veja esta frase de
Lutero: “Sim, eu digo: todas as casas de tolerância, que, entretanto Deus
condenou severamente, todos os homicídios, mortes, roubos e adultérios, são
menos prejudiciais que a abominação da missa papista.” (Werke, t. XV, 773-774)”
Pois é, este era o nível de argumentação de Lutero que nunca fez questão de
esconder o seu ódio. Entretanto Lutero manteve a “sua missa” que depois ficou
comumente conhecida como “santa ceia”. entretanto já não havia a crença no
Sacrifício Propiciatório, não havia mais a Presença Real e Substancial de
Cristo nas espécies consagradas sob a aparência do pão e do vinho mas sim uma
espécie de “empanação”: sim, Cristo estaria presente, mas somente de forma
espiritual, junto com o pão e o vinho e assim sendo não se poderia mais adorar
a Hóstia Santa. Lutero também suprimiu todas as orações do ofertório ( tudo
aquilo que demonstrava claramente ser a Santa Missa um verdadeiro sacrifício)
apesar de ter conservado o termo “sacrifício de louvor” , que contudo, não
abrange toda a extensão e essência da Santa Missa.
Tudo
isso que escrevi acerca da Missa e da Eucaristia era uma novidade para mim.
Sempre procurei participar da “santa ceia” da maneira mais digna possível e de
preferência tendo “confessado” os meus pecados a Deus. (sim! vou falar também
sobre a Confissão).
Nesta
altura dos acontecimentos eu já não me contentava em ler só livros
evangélico-protestantes, afinal eu estava prestes a dar um passo importante na
minha vida e que seria de certa forma definitivo. Eu não queria aventuras e
muito menos justificar tudo como sendo pura e simplesmente “vontade de Deus”
apenas para esconder ou disfarçar meu “conformismo”. Claro que eu confio na
Providência, claro que sei que é Deus Nosso Senhor que guia as nossas vidas e
nos aponta o Caminho certo, afinal de Si mesmo disse Nosso Senhor Jesus: “Ego
Sum, Via, Veritas et Vita” , Eu Sou o Caminho, A Verdade e a Vida Jo 14,6. Ora,
Ele sendo o próprio Caminho, não haveria de me deixar sem respostas, muito
menos desorientado.
Uma
coisa importante, aprendi nesta época: a recorrer sempre aos antigos escritores
eclesiásticos, os chamados “Pais da Igreja”. Ora, tendo muitos deles convivido
com os próprios apóstolos, seriam sem dúvida uma fonte fidedigna de informação;
mas sinceramente, dentro do meu íntimo eu tinha receio do que encontraria
nestes escritos, era como se eu estivesse passando por uma lenta metamorfose.
Resolvi então procurar em sebos e mesmo na internet alguma coisa sobre a Missa.
Afinal, era uma “invenção” romanista ou uma Verdade maravilhosa que remonta aos
primeiros cristãos?
Bem,
a resposta que tive não poderia mesmo ser outra: TODA a estrutura da Santa
Missa já é encontrada em documentos do século I ! Veja por exemplo este breve
texto, escrito por São Justino, que depois foi morto por causa de sua fé em
Cristo Nosso Senhor:
“No
chamado dia do Sol,( domingo ) reúnem-se em um mesmo lugar todos os que moram
nas cidades ou nos campos. Leem-se as memórias dos apóstolos ou os escritos dos
profetas, na medida em que o tempo permite. Terminada a leitura, aquele que
preside toma a palavra para aconselhar e exortar os presentes à imitação de tão
sublimes ensinamentos.
Depois,
levantamo-nos todos juntos e elevamos as nossas preces; como já dissemos acima,
ao acabarmos de rezar, apresentam-se pão, vinho e água. Então o que preside
eleva ao céu, com todo o seu fervor, preces e ações de graças, e o povo aclama:
Amém. Em seguida, faz-se entre os presentes a distribuição e a partilha dos
alimentos que foram eucaristizados, que são também enviados aos ausentes por
meio dos diáconos. Os que possuem muitos bens dão livremente o que lhes agrada.
O que se recolhe é colocado à disposição do que preside. “Este socorre os
órfãos, as viúvas e os que, por doença ou qualquer outro motivo se acham em
dificuldade, bem como os prisioneiros e os hóspedes que chegam de viagem; numa
palavra, ele assume o encargo de todos os necessitados” (Justino – I Apologia
Cap. 66-67 : PG 6,427 – 431).
Depois
de descobertas como esta, resolvi “abrir o jogo” com minha esposa sobre a
questão da Eucaristia e tive então uma das maiores surpresas de minha vida. Já
era tarde da noite e conversávamos sobre amenidades até que tomei coragem e
resolvi falar-lhe sobre o assunto. Não precisei de muito tempo até que ela
tomasse a palavra e me confidenciasse que nunca conseguiu se satisfazer
plenamente com aquilo que sempre lhe ensinaram ser a “santa ceia”, ela sempre
esperou mais, sempre acreditou em algo mais do que aquilo e isso sem que ela
NUNCA houvesse estudado uma única linha do Catecismo Católico e desconhecesse
completamente a doutrina Católica da Missa.
Obviamente
eu perguntei se ela havia lido algo em algum livro meu, mas ela negou, disse
apenas que não concordava com “tão pouco”. Eu entendi bem aonde ela queria
chegar e então conversamos durante longas horas sobre a Igreja, os sacramentos,
sobre Maria Ssmª , o Papa e etc. Claro que não dormimos protestantes e
acordamos católicos, mas resolvemos ir à Santa Missa no domingo, mesmo tendo
que participar do culto pela manhã.
Esqueci
de dizer que pedi dispensa das aulas da EBD, pois não me sentia mais a vontade
ensinando aquilo que eu já não cria mais. No princípio, eu aproveitava as aulas
para tentar me convencer que estava errado, que a “Reforma” foi “gloriosa” e
que o verdadeiro Cristianismo estava na “igreja evangélica” mas minha
resistência foi um verdadeiro fiasco, então para ser coerente e honesto comigo
mesmo desisti das aulas.
Passamos
então a ir às Missas de 18:00 h numa pequena capela que ficava perto de nossa
igreja. Como trabalhávamos ainda na igreja não podíamos ir juntos então minha
esposa ia uma semana com minha filha (então com 04 anos) e eu ia na outra. Foi
um período de grandes descobertas e profundas modificações. Confesso que não
compreendíamos muita coisa, mas sabíamos que estávamos em casa e pouco a pouco
todas as dúvidas foram se dissipando.
Chegou
o dia da prova do seminário e eu simplesmente não fui. Achei justo devolver o
dinheiro mas não quiseram aceitar, o que para mim foi uma humilhação mas dei
graças a Deus, afinal eu já não me importava muito com isso. Nesta época minha
esposa descobriu uma gravíssima lesão na coluna cervical e por conta disso
ficou em licença médica durante mais ou menos dois meses, justamente quando
nossa igreja sediou um congresso de pastores. Até hoje agradeço a Deus pelo seu
modo de agir tão paternal, nos livrando de mais constrangimentos.
Neste
período em que minha esposa ficou doente, resolvemos pedir demissão, mas eles
se anteciparam, já não havia clima para nossa permanência e aqui – infelizmente
– preciso falar de algo pessoal, o pastor simplesmente sumiu, se negou a
conversar, não quis ouvir nossas razões e simplesmente, até o dia em que fomos
embora ele nunca mias se dirigiu a mim. Fiquei muito triste é verdade, mas de
certa forma já esperava por isso.
Alugamos
uma casa e fomos embora sem maiores satisfações. Sentimos um grande alívio e
graças a misericórdia infinda de Nosso Deus estamos até hoje E PELA
MISERICÓRDIA DE DEUS NOSSO SENHOR,ESPERAMOS ESTAR ATÉ O DIA DE NOSSA MORTE, na
Única Igreja fundada por Cristo onde eu fui batizado aos 29 anos, onde recebemos
o Corpo e o Sangue de Cristo, onde batizamos nossa filha e nos unimos
verdadeiramente pelo Sacramento do Matrimônio.
FONTE: http://jesuscristoemsuaplenitude.blogspot.com.br/2013/09/ex-protestante-marcos-j-siqueira.html