Brasil: Religiões e
Crimes
“Num contexto histórico marcado pela violência, a indiferença e o
egoísmo, muitos homens e mulheres de hoje sentem que perderam as suas
referências”.
Papa Francisco e o
Patriarca Ortodoxo Bartolomeu I (1).
Escreve o economista e escritor Rodrigo Constantino: “A prévia
do mapa da violência 2014, divulgada recentemente, com base nos dados do
Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde
referentes a 2012, mostra que ocorreram quase 60 000 assassinatos no Brasil
apenas naquele ano. O brasileiro é tido como um “povo cordial”, mas as
estatísticas mostram algo bem diferente. Somos um dos povos mais violentos do
mundo. Em uma década, o país perde em homicídios e acidentes de trânsito mais
do que as bombas atômicas exterminaram em Hiroshima e Nagasaki. Viver no Brasil
é muito perigoso, especialmente para os mais jovens” (2).
O aumento de 42% na venda de calmantes da classe dos benzodiazepínicos
(Rivotril, Valium e Lexotan) nos últimos cinco anos acende um sinal de alerta
no Brasil. Dentro desse contexto tem muito brasileiro com perturbação
catastrófica. O desequilíbrio só tende a aumentar e levar a outros males.
A ironia: Como pode haver tanta violência e crimes no Brasil? O
nosso País é a maior nação católica, pentecostal e espírita do mundo!
Há tantas igrejas, religiões e seitas, pregando curas e libertação ...
e o resultado? As drogas, corrupção, pornografia, assassinatos, violência
contra crianças, mulheres e idosos ... imperam em nosso Brasil!
Temos templos majestosos, meios de comunicação ditos cristãos,
religiosos milionários e até um “templo de Salomão”! Temos líderes religiosos
com títulos pomposos, com Bíblia na mão e especialistas na espetacularização do
culto-show ... mas nada disso faz do Brasil o país mais pacífico do mundo.
É vergonhoso, é um vexame abismal um País com tantos partidos
políticos e alguns que levam até o nome “cristão”, e quantos líderes religiosos
na política brasileira que convivem com “campa” e a “camorra”.
Com tanta Bíblia vendida, culto todo dia, terço e missa diariamente,
sessão espírita por todo recanto do País e outras práticas religiosas, tudo
isso não era para fazer do Brasil um paraíso? Um lugar sem pobres, sem
violência e sem agressão religiosa?
É uma chacota dizer que “Deus é brasileiro”, o “Brasil é do Senhor
Jesus”, é a “Pátria do Evangelho”.
Fala-se demais em Deus, sem respeito e sem conhecimento. Ultrapassa-se
o sacrilégio para chegar ao escândalo colossal. Deus é objeto econômico de
falsos líderes religiosos e um ser mágico da massa sofrida. Quando se acende
uma vela para Deus e outra ao Diabo, é porque os velórios da fé e de outras
práticas de crenças são de um sistema religioso morto.
Depois da Índia e do continente africano, o Brasil é o maior
laboratório religioso do mundo. É muito vivo-morto nas crenças, superstições,
seitas e heresias nesse cemitério da ortodoxia cristã.
Hoje o Brasil pode ser muito bem definido como o país da Bíblia, do
terço, do passe mediúnico e da arma de fogo.
Fica muito difícil a paz, a verdade, a caridade e a justiça serem
fundamento para o bem comum, quando o ser humano é dominado pela falácia, pela
hipocrisia e pelo interesse econômico.
Diante de tudo isso, o que resta é o clamor por mudanças radicais, a indignação
e o testemunho de vida plena de homens e mulheres de boa vontade na luz de
Jesus Cristo!
Pe. Inácio José do
Vale
Professor de História
da Igreja - Instituto de Teologia Bento XVI - Sociólogo em Ciência
da Religião
E-mail: [email protected]
Notas:
(1)
L’osservatore
Romano, 31/05/2014, p.11.
(2)
Veja, 04/06/2014,
p. 90.