A VERDADEIRA
LIBERTAÇÃO
- QUESTÃO DE PRIORIDADE E FOCO -
Dom Fernando Arêas
Rifan*
“É para a liberdade que Cristo nos
libertou” é o lema da Campanha da Fraternidade deste ano, frase tirada da
Epístola de São Paulo aos Gálatas (5,1). Mas o Apóstolo continua: “Sim, irmãos,
fostes chamados à liberdade, mas não abuseis da liberdade...” (Gl 5, 13). “Liberdade”
é realmente uma palavra sedutora e pode se tornar perigosa. Por isso há que
compreendê-la no correto sentido, como nos explica a Instrução da Congregação
para a Doutrina da Fé sobre alguns aspectos da “Teologia da Libertação”:
“O
Evangelho de Jesus Cristo é mensagem de liberdade e força de libertação... A
libertação é antes de tudo e principalmente libertação da escravidão radical do
pecado. A liberdade dos filhos de Deus – dom da graça – é sua principal
meta. Logicamente, demanda a libertação de múltiplas escravidões de ordem
cultural, econômica, social e política, que, positivamente, derivam do pecado e
causam muitos obstáculos que impedem as pessoas de viver segundo a sua
dignidade. Fazer o discernimento com clareza do que é fundamental e o que faz
parte das consequências é requisito indispensável para a reflexão teológica
sobre a libertação”.
“Diante
da urgência dos problemas existentes, algumas pessoas se veem tentadas a
priorizar a libertação das servidões de ordem terrena e temporal de tal
maneira, que parecem relegar a um segundo plano a libertação do pecado,
não lhe atribuindo a devida importância primordial. A apresentação dos
problemas por elas propostos se torna, assim, confusa e ambígua. Servem-se de
instrumentos de pensamento que é difícil, e até mesmo impossível, purificar de
uma inspiração ideológica incompatível com a fé cristã”. Queremos despertar a
atenção “para os desvios e riscos de desvio prejudiciais à Fé e vida cristã,
inerentes a certas formas de teologia da libertação as quais, de modo
insuficientemente criterioso, recorrem a conceitos tomados em diferentes
correntes do pensamento marxista” (1984, Edições CNBB).
A
propósito, recordemos a Profissão de Fé do Povo de Deus, do Papa Paulo
VI: “Confessamos
que o Reino de Deus, começado aqui na terra na Igreja de Cristo, ‘não é deste
mundo’ (cf. Jo 18,36), ‘cuja figura passa’ (cf. 1Cor 7,31), e também que o seu
crescimento próprio não pode ser confundido com o progresso da cultura humana
ou das ciências e artes técnicas; mas consiste em conhecer, cada vez mais
profundamente, as riquezas insondáveis de Cristo, em esperar sempre com maior
firmeza os bens eternos, em responder mais ardentemente ao amor de Deus, enfim
em difundir-se cada vez mais largamente a graça e a santidade entre os homens.
Mas, com o mesmo amor, a Igreja é impelida a interessar-se continuamente pelo
verdadeiro bem temporal dos homens. Pois, não cessando de advertir a todos os
seus filhos que eles ‘não possuem aqui na terra uma morada permanente’ (cf. Hb
13,14), estimula-os também a que contribuam, segundo as condições e os recursos
de cada um, para o desenvolvimento da própria sociedade humana; promovam a
justiça, a paz e a união fraterna entre os homens; e prestem ajuda a seus
irmãos, sobretudo aos mais pobres e mais infelizes...”.
*Bispo da
Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
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