QUARESMA E
FRATERNIDADE
Dom Fernando Arêas Rifan*
Hoje,
quarta-feira de Cinzas, começa o importante tempo litúrgico da Quaresma, no
qual a
Igreja almeja que nos unamos mais intimamente ao Mistério Pascal de Nosso
Senhor Jesus Cristo, mistério que inclui sua Paixão, sua morte e sua gloriosa
Ressurreição. A Campanha da Fraternidade, que acontece na
Quaresma, tem como finalidade unir as exigências da conversão, da oração e da
penitência com algum projeto social, na intenção de renovar a vida da Igreja e
ajudar a transformar a sociedade, a partir de temas específicos, tratados sob a
visão cristã, convocando os cristãos a uma maior participação nos sofrimentos
de Cristo, vendo-o na pessoa do próximo, especialmente dos mais necessitados da
nossa ajuda.
O tema da Campanha
da Fraternidade desse ano é “Fraternidade e tráfico humano”, com o lema “É para
a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5, 1).
A razão é que o
tráfico humano está presente em todo o mundo e os cristãos não podem ficar
insensíveis a essa triste realidade. Tráfico humano é toda comercialização de
pessoas, ou seja, o uso de pessoas como se fossem coisas vendáveis, negociáveis.
É uma forma de escravidão, um desrespeito grave à dignidade da pessoa humana.
Pessoas são compradas e vendidas por dinheiro, para o prazer, para extração de
órgãos ou como instrumento de corrupção. Segundo as Nações Unidas, de 800 mil a
2, 4 milhões de pessoas vivem traficadas hoje no mundo. E o Brasil não fica
isento dessas escravidões. Pensemos especialmente nas crianças aliciadas e
escravizadas como soldados mirins a serviço do tráfico de drogas.
“O comércio de
pessoas humanas constitui uma chocante ofensa contra a dignidade humana e uma
grave violação dos direitos humanos fundamentais. Já o Concílio Vaticano II
apontou ‘a prostituição, o mercado de mulheres e jovens e também as condições
degradantes de trabalho, que reduzem os operários a meros instrumentos de
lucros, sem respeitar-lhes a personalidade livre e responsável’ como ‘infâmias’
que ‘envenenam os que as cometem e constituem ‘uma suprema desonra ao Criador’
(GS 27)” (B. João Paulo II).
“Insisto que o
tráfico de pessoas é uma atividade ignóbil, uma vergonha para as nossas
sociedades, que se dizem civilizadas! Exploradores e clientes de todos os
níveis deveriam fazer um exame sério de consciência diante de si mesmo e
perante Deus! Hoje a Igreja renova o seu apelo vigoroso a fim de que sejam
sempre salvaguardadas a dignidade e a centralidade de cada pessoa, no respeito
pelos seus direitos fundamentais, como ressalta a sua doutrina social... Num
mundo em que se fala muito de direitos, quantas vezes é verdadeiramente
espezinhada a dignidade humana! Num mundo onde se fala tanto de direitos,
parece que o único que os tem é o dinheiro...” (Papa Francisco).
Lutemos contra o trabalho
escravo, contra a exploração de mulheres e crianças e contra o tráfico de
órgãos, oferecendo nesta Quaresma nossas orações e sacrifícios por uma
sociedade mais cristã e, consequentemente, mais humana e fraterna.
*Bispo da Administração Apostólica
Pessoal São João Maria Vianney
http://domfernandorifan.blogspot.com.br/