Uma janela para a vida
Sempre temos dito que a derrocada da
fecundidade feminina (número de filhos por mulher) tem levado a Europa ao
estado que hoje se encontra. Há número crescente de idosos cada vez maior e
falta de jovens para substituí-los. E pior, (ou melhor) idosos que a ciência
permitiu esticar mais ainda suas vidas. O Brasil, infelizmente por um lado, não
quis ficar para trás, seguiu as mesmas regras nos últimos vinte anos, reduziu
seu tamanho para menos de dois filhos onde poderemos pagar um preço alto pela
imitação. Nossas estatísticas demográficas levantadas em 2010 deram-nos um frio
na barriga. Caímos para abaixo de 1,90 filhos por mulher, onde significa que no
longo prazo, não recuperaremos mais a população, salvo se houver uma mudança
radical de atitude por parte da nossa parceira em mudar estes números.
Para uma agradável surpresa, para o coro
daqueles que estão preocupados com os números demográficos, houve uma pequena
fresta de esperança na mudança desse quadro, anunciado através de uma reportagem
da revista Veja (29/08/12).
Embora seja muito cedo para lançar
foguetes, nos dá certa esperança quando vemos declarações de mulheres que
criaram a coragem de aumentar sua prole, para três ou mais filhos. Aleluia. Pela
reportagem, são pessoas influentes na mídia, que poderão ajudar a mudar o
estereótipo criado para se ter o mínimo de filhos possível, proclamados por
alguns de até zero. Chegando a outras aberrações familiares, onde uma delas é a
“produção independente”. Parece-nos que houve uma mudança de comportamento,
onde justamente as classes de melhor renda era as que se davam maior restrição
e as classes de menor renda enxameavam o Brasil engrossando o caldo de miséria.
O que se observa, sem qualquer compromisso de afirmação científica: está havendo
uma redução nas camadas mais baixas e, na média e alta, está aumentando a prole
ficando dentro de uma lógica econômica.
Há um preconceito sobre as dificuldades de
famílias numerosas na sua manutenção e criação. Não se nega que seja um sacrifício
enorme para aqueles pais que assumem esta corajosa decisão. Não se está aqui
conclamando ao saudosismo agrícola quando era possível criar proles de dez
filhos ou mais. Mas, para aquelas famílias que tiveram a valentia de terem três
ou mais filhos é sempre dito: um é pouco, dois é suficiente, mas três em diante
a casa se enche de uma imensa alegria.
Mesmo nos dias bicudos de hoje, com a
possibilidade e a oferta de trabalho da nossa economia, com uma taxa de
desemprego baixo, próximo do ideal social, é possível manter uma prole maior do
que a estatística vinha oferecendo. Quando dizemos bicudo o é no sentido da
dificuldade de se usufruir as ofertas de produtos muito além de nossas
necessidades de sobrevivência, pois a renda atualmente é suficiente para se
manter. É necessário dizer que parte é decorrente do aumento da renda média do
brasileiro na última década, ou melhor, da era do Real.
Filho único é um risco para os próprios
pais, numa hipótese dramática de doença, ou por qualquer acidente de percurso vier
a morrer. Neste momento os pais ficam sozinhos no mundo. Pela outra parte o
filho único sente uma enorme frustração pela falta de irmãos com quem partilhar
suas angústias, suas experiências, suas alegrias. Sentem-se muitos sós. Ficam em
geral grandes prematuramente, queimam etapas da vida por conviverem
exclusivamente com adultos no ambiente familiar. A experiência tem demonstrado
que estas pessoas geralmente têm problemas de adaptação social, caracterizado
pela apatia aos desafios da vida, solidão e quando não frustração existencial.
Muitos jovens quando começam entrar no seu
momento de geração, tem lá seus receios, suas incertezas pela prole que vão
enfrentar. Pela experiência, é de se dar um alento. As famílias de onde vieram serão
as primeiras a se solidarizar e a própria sociedade será generosa com eles em
segunda instância. Na visão cristã não há razão para o medo, Deus os ajudará.
Nas horas difíceis, haverá recursos, apoio e até emprego que em outras
situações jamais haveria. É nesta hora que a força da vida se manifestará e
toda a sociedade estenderá sua mão. Quem ao ver um pai ou uma mãe, atrapalhados
nos cuidados de sua prole, com dificuldades financeiras, doenças, empregos, não
será solidário? Neste particular, o brasileiro é de um coração imensamente generoso.
Alguns estudiosos, com base numa ética
utilitarista, chegam a calcular o custo de um filho para sua criação. Mas
jamais terão a coragem de calcular o beneficio da satisfação dos pais. Porque o
valor moral e espiritual deste benefício é infinito. Não há como se medir.
Sergio Sebold – Economista e Professor
Independente