Não é
garantido que todos se salvem...
No
próximo Domingo, com a Solenidade de Cristo Rei, inicia-se a última semana do
Ano Litúrgico; por isso toda a Palavra de Deus desses últimos dias do ano da
Igreja vai concentrar-se no tema do fim dos tempos: “fim” no sentido de
finalidade e “fim” no sentido de final.
Livro de Daniel (Dn), capítulo 12
1
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Naquele tempo, surgirá Miguel, o grande chefe, o protetor
dos filhos do seu povo. Será uma época de tal desolação, como jamais houve
igual desde que as nações existem até aquele momento. Então, entre os filhos
de teu povo, serão salvos todos aqueles que se acharem inscritos no livro.
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2
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Muitos daqueles que dormem no pó da terra despertarão, uns
para uma vida eterna, outros para a ignomínia, a infâmia eterna.
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3
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Os que tiverem sido inteligentes fulgirão como o brilho do
firmamento, e os que tiverem introduzido muitos (nos caminhos) da justiça
luzirão como as estrelas, com um perpétuo resplendor.
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Observe
o tom solene, que deseja chamar atenção para o fim da história, quando tudo
será julgado pelo Senhor Deus – nós, cristãos, sabemos que este Juízo dar-se-á em Cristo Jesus: “Naquele tempo...” – Trata-se do tempo do fim, do Dia do Senhor, do Terceiro
Dia, do Dia da Ressurreição, do Dia da Ira de Deus, do Dia do Messias, do Dia
de Cristo...
Por
que a referência a Miguel? Na tradição bíblica, cada povo tem seu anjo
protetor. O anjo do Povo de Deus é Miguel (= quem é como Deus?). É ele o
protetor do antigo e do novo Povo de Deus.
Observe
bem as imagens usadas o texto: a primeira vista revelam angústia, mas o sentido
é de salvação: essa angústia é a dor de parto de um mundo novo, salvo pelo
Senhor Deus. Releia o v. 1 e Jo
16,20-22.
Observe
que não é garantido que todos se salvem... Fala-se claramente numa ressurreição
para a vida e numa ressurreição para a morte, isto é, para o inferno. Releia o
v. 2! É bom recordar que o inferno é uma possibilidade tremenda, pois Deus
respeita a nossa liberdade: aqueles que culpavelmente se fecharam para sua
graça que nos foi dada em Cristo, ficarão sem ele para sempre. Várias vezes
Jesus falou sobre a real e tremenda possibilidade do inferno. Leia Mt
18,7-9; 25,41-45.
Qual
a salvação que o Senhor nos prepara e nos promete? A Ressurreição. Releia os
vv. 2-3.
Atenção:
a palavra “ressurreição” pode ter vários sentidos: (1) sentido espiritual:
aquele ligado ao filho pródigo, que estava morto e voltou à vida; (2) sentido
figurado: a ressurreição de Lázaro, da filha de Jairo, do filho da viúva de
Naim... (3) em sentido neutro: todos, bons e maus, ressuscitarão, não ficarão
num sono inconsciente; (4) em sentido próprio: em corpo e alma, os justos
ressuscitarão transfigurados na glória de Cristo, que é o Espírito Santo, para
estarem para sempre com o Senhor!
Como
será a ressurreição? Leia 1Cor
15. Eis a nossa fé: imediatamente após a morte compareceremos diante do
Cristo Juiz Salvador. Leia Fl
1,20-24; 2Cor
5,10. Este estar diante do Cristo será com a nossa dimensão espiritual,
nossa alma e, no final dos tempos, no Dia da Ressurreição, também com o nosso
corpo. Trata-se de um só Juízo com dois momentos. Leia com atenção 2Cor
4,17 – 5,10.
Vejamos
o que diz o Catecismo da Igreja Católica:
1051. Ao morrer: cada homem recebe, na sua alma imortal, a sua
retribuição eterna, num juízo particular feito por Cristo, Juiz dos vivos e dos
mortos.
1052. «Nós cremos que as almas de todos os que morrem na graça
de Cristo [...] constituem o povo de Deus no além da morte, a qual será
definitivamente destinada no dia da ressurreição, quando estas almas forem
reunidas aos seus corpos».
1053. «Nós cremos que a multidão dessas almas que estão
congregadas à volta de Jesus e de Maria, no paraíso, formam a Igreja celeste
onde, na eterna bem-aventurança, veem Deus como Ele é onde também, certamente
em graus e modos diversos, estão associadas aos santos anjos no governo divino
exercido por Cristo glorioso, intercedendo por nós e ajudando a nossa fraqueza
com a sua solicitude fraterna».
1054. Os que morrem na graça e amizade de Deus, mas
imperfeitamente purificados, embora seguros da sua salvação eterna, sofrem
depois da morte uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para
entrar na alegria de Deus.
1055. Em virtude da «comunhão dos santos», a Igreja encomenda os
defuntos à misericórdia de Deus e oferece em seu favor sufrágios, em particular
o santo Sacrifício eucarístico.
1056. Seguindo o exemplo de Cristo, a Igreja adverte os fiéis da
«triste e lamentável realidade da morte eterna», também chamada «Inferno».
1057. A pena
principal do Inferno consiste na separação eterna de Deus, o único em Quem o
homem pode encontrar a vida e a felicidade para que foi criado e às quais
aspira.
1058. A
Igreja ora para que ninguém se perca: «Senhor [...], não permitais que eu me
separe de Vós». Sendo verdade que ninguém se pode salvar a si mesmo, também é
verdade que «Deus quer que todos se salvem» (1Tm
2,4) e que a Ele «tudo é possível» (Mt
19,26).
1059. «A santa Igreja Romana crê e firmemente confessa que, no
dia do Juízo, todos os homens hão de comparecer com o seu próprio corpo perante
o tribunal de Cristo, para prestar contas dos seus próprios atos».
1060. No fim dos tempos, o Reino de Deus chegará à sua plenitude.
Então, os justos reinarão com Cristo para sempre, glorificados em corpo e alma;
o próprio universo material será transformado. Deus será, então, «tudo em
todos» (1Cor
15,28), na vida eterna.
Dom Henrique Soares