Marcha, soldado, cabeça de
papel...
Fonte: Jornal do
Brasil
Sergio Sebold*
Virou moda a síndrome das marchas pacíficas em todo o
mundo como protestos ao status quo. Estas reações são tão fortes que até em
regimes altamente fechados, com consistência cultural ultraconservadora, estão
saindo de seu anonimato e, pior, do controle. Pelo lado ocidental é que as
coisas assumem uma proporção avassaladora e até pitoresca. Por todo lado, vemos
contestações, das mais plausíveis às mais berrantes, sem qualquer conteúdo
ideológico que as justifique. Esta é a liberdade que a democracia permite.
Boa parte deste último elenco está mais para o lado de
chamar a atenção sobre si mesmo (dos participantes), na busca de autoafirmação,
do que a contestação de um grupo social. Procuram chamar a atenção
criando pressões legais, até de constrangimentos, com aplausos da mídia para
seu reconhecimento; contaminam os legisladores através de sofismas, a fim de
obrigarem a grande maioria a aceitá-los, criando condições preferenciais, em
detrimento da grande maioria da sociedade.
Procuram mudar, destruir valores culturais e morais já
aceitos e cultivados pela grande maioria, no sentido de esta assimilar estes
"novos" conceitos. Respeitar, tolerar condutas (desde que não sejam
prejudiciais a outrem) é até um dever civilizatório. Mas querer obrigar que
sejam reverenciadas suas atitudes, mais particularmente as que afrontam a
dignidade da família, sustentáculo da coesão social, isto já é querer demais.
É verdade que avanços científicos levam à quebra de
tabus, de mitos; novos conhecimentos, paradigmas, obrigam muitas vezes mudanças
radicais de posturas consagradas. Mas quando estes desenvolvimentos vêm em
prejuízo cultural da sociedade, perde qualquer sentido o avanço da pesquisa.
Recentemente, como um rastilho de pólvora, levantou-se
uma contestação de um grupo social, a marcha sobre a discriminação das
mulheres, a qual pela ignorância de um machista canadense atribuíram a
denominação "marcha das vadias". O avanço de reconhecimento dos
direitos da mulher, há milhares de anos negado, fez com que este grupo
levantasse uma bandeira de protesto válido, em nosso entender.
Todo o protesto que a democracia permite deve ter lá
suas regras, e principalmente efeitos sobre o alerta da grande maioria na busca
de sua justaposição no ambiente social em que se insere. Toda a manifestação
deve ter seu sentido político, mas não pela postura ou degradação moral, como
show circense.
Entendemos que os direitos e proteção das mulheres
devam ser muito bem respeitados, garantidos e até honrados, mas a recente
marcha leva por trás uma questão subjetiva do exibicionismo perdendo o
verdadeiro foco, que é a proteção da mulher contra a violência física. E pior,
com apoio de um governo que faz confusão entre as obrigações do Estado,
com as preferências pessoais dos que governam o país.
Os acontecimentos recentes do Rio, com a invasão da
marcha acima a um centro religioso, destituíram de qualquer significado suas
reivindicações. No seu interior, justamente estavam pessoas das que mais prezam
o respeito à mulher. Isto mostra inequivocamente que o movimento desviou para
outros objetivos, como destruir os verdadeiros valores da família.
Só falta ainda levantar a marcha dos endividados
pelados, que já alcançam a metade da população. Esta, sim, se sair às ruas,
paralisará o país, não pelo sentido estético mas pelos efeitos da asfixia a que
lentamente estamos assistindo. A oferta de dinheiro fictício, pela ganância de
banqueiros inescrupulosos, em breve paralisará o país. Sendo fictício, ele não
voltará!
* Sergio Sebold, economista, é
professor.