Líder pró-vida
brasileiro afirma: rezar pela Vida Nascente é um chamado a afirmar o valor
integral da vida humana
Fonte (ACI) ACI Digital
Dom Carmo Joao Rhoden Bispo de Taubabté
e Prof. Hermes Rodrigues Nery (à direita)
Em entrevista exclusiva a ACI Digital, o Prof. Hermes Rodrigues Nery, pós-graduado em
bioética pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ), diretor da Associação
Nacional Pró-vida e Família, do Movimento Brasil Sem Aborto e membro da Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1 da CNBB, explica
a transcendência da votação a ser realizada no dia 11 de abril pelo Supremo
Tribunal Federal que julgará a ADPF-54, uma proposta de lei que visa autorizar
o aborto em casos de anencefalia.
Diante disso, o Movimento Legislação e Vida da Diocese de Taubaté, que é outra
das iniciativas que o Prof. Hermes lidera, fez uma convocação a uma Vigília de Oração pela Vida Nascente.
Qual o significado e a importância desta
iniciativa que está por ser submetida a votação?
Se aprovar a ADPF-54, o Supremo Tribunal Federal poderá estar decretando em
nosso País, uma nova “matança dos inocentes”, na medida em que colabora com os
organismos internacionais e agências da ONU, que há anos vem pressionando para
impor a legalização do aborto no Brasil e em toda a América
Latina. Querem transformar o crime do aborto em direito humano. Na Evangelium
Vitae (n. 11), o beato João Paulo II, profeticamente denunciou esta perversa situação, ao
chamar a atenção, “de modo particular, sobre outro gênero de atentados,
relativos à vida nascente e terminal, que apresentam novas características em
relação ao passado e levantam problemas de singular gravidade: é que na
consciência coletiva, aqueles tendem a perder o caráter de ‘crimes’ para
assumir paradoxalmente, o caráter de ‘direitos’, a ponto de se pretender um
verdadeiro e próprio reconhecimento legal da parte do Estado e a consequente
execução gratuita por intermédio dos profissionais da saúde.
Tais atentados ferem a vida humana em situações de máxima fragilidade,
quando se acha privada de qualquer capacidade de defesa. Mais grave ainda é o
fato de serem consumados, em grande parte, mesmo no seio e por obra da família que está, pelo contrário, chamada
constitutivamente a ser ‘santuário da vida’”.
O que foi diagnosticado por João Paulo II está hoje ocorrendo, de forma célere
e de modo sofisticado, de diversos meios, num processo de crescentes ameaças
contra a dignidade da pessoa humana, sem precedentes na História. Ideologias
anárquicas, de corrosão do próprio conceito de humanidade, atuam de modo
sistêmico, no afã de pulverizar o que de melhor a civilização cristã edificou
em tantos séculos. Como bem expressou o papa Bento XVI, “há uma ideologia que, no fundo, reduz tudo o que
existe a um comportamento de poder. E essa ideologia destrói a humanidade e
também a Igreja”. E diante disso, a Igreja tem de
ser resistência, “sinal de contradição”, de modo sempre propositivo, afirmando
a cultura da vida, pois cremos que “a glória de Deus é o homem vivo”.
No Brasil, a votação da ADPF-54 é decisiva nesse processo. Esta é uma batalha
que não pode ser perdida, e temos agora, enquanto cristãos que nos posicionar
em favor da vida e da Igreja. Daí o chamado à oração diante do STF. Os
argumentos intelectuais (científicos, filosóficos, jurídicos, antropológicos,
políticos, econômicos, demográficos, etc.) em favor da proteção da vida
nascente, não tocam mais o coração e a consciência dos ministros. Muitos deles
sentem-se olímpicos.
Celso de Mello, por exemplo, foi implacável contra a Igreja quando votou a
favor do uso de células-tronco embrionárias para fins de pesquisa científica.
Com a força da oração podemos vencer esta batalha, pela graça de Deus, como se
estivéssemos diante de uma nova Poitiers. “Só a ação e só a construção
intelectual não são suficientes”, afirma Bento XVI.
Daí a Vigília de Oração pela Vida Nascente?
Sim. A oração é tudo na vida da Igreja. Com a oração, “algo de novo acontece”,
salienta Ratzinger, em sua obra Jesus de Nazaré (v. 1, p. 58) e somos capazes
de nos maravilhar com o dom da vida, e encontrar a motivação interior que vem
do Altíssimo, a convicção do verdadeiro para defender a vida e o bem de toda
pessoa humana. Pois podemos muito pouco (hoje sei muito bem disso!), e com a
oração nos abrimos Àquele que tudo pode.
A Vigília de Oração pela Vida Nascente foi proposta em 2010, pelo Papa Bento
XVI, por ocasião do Advento. Um chamamento para que a Igreja
toda unida “à semelhança de Maria Santíssima” a abraçar “o amor que salva e
consola”, na defesa do ser humano fragilizado, conforme o papa explicitou. E
explicou naquela ocasião que “há tendências culturais que buscam anestesiar as
consciências com motivações espúrias. Com relação ao embrião no ventre materno,
a própria ciência coloca em evidência a autonomia capaz de interação com a mãe,
a coordenação dos processos biológicos, a continuidade do desenvolvimento, a
crescente complexidade do organismo. Não se trata de um acúmulo de material
biológico, mas de um novo ser vivente, dinâmico e maravilhosamente ordenado, um
novo indivíduo da espécie humana. Assim aconteceu com Jesus no seio de Maria;
assim foi com cada um de nós, no ventre de nossa mãe.”
E acrescentou, ressaltando que “a pessoa é um bem em si mesma e é preciso
buscar sempre o seu desenvolvimento integral. O amor por todos, portanto, se é
sincero, tende espontaneamente a dar atenção preferencial aos mais débeis e
pobres. Sobre essa linha, coloca-se a solicitude da Igreja pela vida nascente,
a mais frágil, a mais ameaçada pelo egoísmo dos adultos e do obscurecimento de
consciência. A Igreja continuamente reafirma aquilo que declarou o Concílio
Vaticano II contra o aborto e toda a violação da vida nascente: ‘A vida, uma
vez concebida, deve ser protegida com o máximo cuidado’”
Diante da iminência do STF em aprovar a ADPF-54, com as sérias e graves consequências
decorrentes disso (inclusive na vida da Igreja), temos que nos posicionar,
“para que o que é cristão possa voltar a ser compreendido”, como disse
Ratzinger, em seu livro "O Sal da Terra" (Ed. Imago, p. 185) Em vez
de um ato público (como o que fizemos recentemente em São Paulo), optamos pela
Vigília, pois as circunstâncias exigem que o povo cristão, especialmente o
católico, se manifeste, para evitar primeiramente a gravidade da omissão.
E os que dirão que o estado é laico e que a
Igreja deve se restringir à sacristia? O que dizer a respeito disso?
Presenciamos muito tristemente, especialmente entre católicos, um sentimento de
recuo pusilânime na manifestação da fé, utilizando o pretexto do laicismo como
argumento. Desconhecendo o sentido e o conceito de estado laico, acabam
aceitando à entrega e ao desânimo, dizendo que é melhor não nos apresentarmos
mais como católicos, porque os laicistas irão disparar rótulos reducionistas
que poderão comprometer muitas vezes posições cômodas de um catolicismo que vai
perdendo vigor e identidade. O estado laico reconhece e garante a liberdade de
expressão de todos os credos religiosos. Não assume nenhum credo como oficial,
deixando portanto de ser um estado confessional. A neutralidade é do Estado e
não do povo, que tem garantia constitucional da livre expressão e da liberdade
religiosa. Há que se distinguir portanto laicidade de “ideologia laicista”.
Laicidade não quer dizer irreligiosidade, como leigo não quer dizer incrédulo.
É salutar que o estado seja laico (o próprio Jesus indicou esta distinção entre
César e Deus), mas distinção que não nega influência entre ambos, e até mesmo
na sociedade democrática, tal influência não pode ser impedida, pois contrariaria
o próprio princípio da democracia. E ainda neste princípio, faz-se necessário
compreender também os conceitos de povo e Estado, pois o Estado existe por
causa do povo e para o povo, e o estado laico não quer significar povo ateu. No
estado laico, até o ateísmo tem garantia de livre expressão, mas inibir ou
rechaçar qualquer que seja a manifestação religiosa não é da laicidade, mas da
sua deturpação enquanto ideologia laicista.
A laicidade (e não o laicismo como entendem equivocadamente alguns teóricos da
Filosofia Política) “aceita a influência das igrejas na vida pública,
contando que esta influência seja decorrente de seu autônomo peso social e não
de privilégios concedidos pelo Estado”, como explicita o verbete “Laicismo”, do
Dicionário de Política, organizado por Norberto Bobbio e Gianfranco Pasquino,
v. 2, p. 673, publicado pela Editora Universidade de Brasília, em 1992.
Não havendo a clara distinção de um e outro âmbito (o espiritual e o secular),
bem como a tentação de banir uma e outra influência, temos então não um Estado
como representante e guardião do povo, mas de uma caricatura de Estado,
esvaziado de seu sentido, e então, como descreveu Max Weber, no mesmo verbete “Laicismo”,
“ao mesmo tempo, justamente nas sociedades mais secularizadas, como se fosse
para compensar os valores sociais perdidos, surgem ideologias totalitárias que
se caracterizam como novos atentados à concepção propriamente leiga da política
e da cultura”. O ativismo judicial, portanto, exercido hoje pelo Supremo
Tribunal Federal, especialmente em questões do campo moral, traduzem estes
“novos atentados” a preparar as condições políticas para novas “ideologias
totalitárias”. Daí o imperativo de afirmamos a cultura da vida.
Se o senhor estivesse hoje com um ministro
do STF, que mensagem deixaria a ele, diante desta situação?
Eu diria franca e abertamente que se eles têm tanto poder, como salientou o
Ministro Marco Aurélio Mello (relator da ADPF-54), dizendo que o STF é “a
última instância do cidadão”; pois bem, diante de tanto poder olímpico, eu
falaria claramente que se há algo que tenho profunda convicção é a de que os
senhores ministros não têm o poder de banir Deus do coração do povo.
Vale lembrar que todos os brasileiros estão convocados a participar no dia 10
de abril em Brasília de uma grande Vigília pela Vida organizada pelo Movimento
Pró-Vida e Família e o Movimento Legislação e Vida a partir das 18h em frente
ao prédio do Supremo Tribunal Federal para rezar pela vida nascente e
representar os mais de 80% dos brasileiros que são contrários à legalização do
aborto.
Prof. Hermes
Nery