Não existe comunicação direta com
Deus para a absolvição dos pecados
13-03-2012
Entrevista com o padre Hernán
Jiménez, confessor em Santa Maria Maior
José Antonio Varela Vidal
ROMA, terça-feira, 13 de março de 2012 (ZENIT.org) - Em recente
discurso à Penitenciaria Apostólica, o papa enfatizou que “a nova evangelização
parte também do confessionário”, porque só quem se deixa renovar profundamente
pela graça divina pode trazer em si a novidade do Evangelho e anunciá-la.
Nesta quaresma, ZENIT entrevistou o padre Hernán
Jiménez, confessor da basílica de Santa Maria Maior, em Roma. Jiménez lembra
que os turistas e fiéis podem se confessar em muitas línguas modernas e mesmo
antigas, como o latim.
Parece que na quaresma há mais
afluência de pessoas ao sacramento da reconciliação…
- Pe. Jiménez: Sim, porque na páscoa os cristãos
querem se reconciliar com Nosso Senhor. A Igreja nos recorda o caminho até o
Pai que espera pelo filho, o filho que reconhece que errou e que volta para
pedir perdão. Este é o tempo mais favorável para a nossa conversão.
Por que a quaresma é um tempo
privilegiado para este sacramento?
- Pe. Jiménez: Porque através da oração, da penitência
mais moral do que corporal, através das obras de caridade, nós participamos
mais intimamente da paixão e da ressurreição de Cristo. É uma preparação para a
páscoa, que nos conscientiza da necessidade de nos saber amados por Deus, nosso
Pai. Todo cristão que crê tem que viver e sentir a necessidade da conversão.
Deus perdoa sempre? Perdoa tudo?
- Pe. Jiménez: Deus é um pai bondoso, compassivo e
misericordioso. Ele perdoa sempre todas as nossas faltas e pecados. Deus perdoa
tudo, se o homem humildemente se reconhece pecador, como diz Mateus 18, 21 e
seguintes.
A cada quanto tempo um católico tem
que se confessar?
- Pe. Jiménez: No geral, com muita frequência! Mas
pelo menos uma vez por ano, se possível na páscoa. Depende do grau de
consciência na relação com Deus: quanto mais consciência você tem da presença
dele, mais forte é a necessidade da pureza. Quanto mais você vive perto de
Jesus, com espírito de fé, muito mais você procura viver com grande retidão.
Qual é a melhor maneira de se
preparar para a confissão?
- Pe. Jiménez: Fazendo o exame de consciência sobre os
mandamentos, os preceitos da Igreja, o preceito da caridade fraterna. E também
sobre os nossos deveres de cristãos praticantes.
Os confessores não mandam mais só
rezar como penitência, mas também fazer atos de ressarcimento. Isto é oficial,
substitui as orações?
- Pe. Jiménez: As obras de caridade substituem muito
bem a oração, porque o ressarcimento ou restituição é uma obrigação de justiça.
Existe a confissão "direta com
Deus", como algumas pessoas argumentam? Qual é a diferença entre essa
prática e o sacramento da reconciliação?
- Pe. Jiménez: Com Deus existe uma comunicação direta
na oração e na meditação interior, mas nunca na remissão dos pecados. Segundo o
mandamento de Jesus, só os apóstolos e os seus sucessores, os sacerdotes, podem
perdoar os pecados em nome dele.
Qual é a base bíblica do perdão
exercido pelo sacerdote? Ele age em nome de Deus ou do seu próprio poder como
consagrado?
- Pe. Jiménez: A base está nos evangelhos, em João 20,
22-23. O sacerdote age em nome de Deus e pelo mandamento da Igreja, que ele
recebe na ordenação sacerdotal. O sacerdote perdoa todo pecado com a fórmula “…
em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
Os apóstolos se confessavam?
- Pe. Jiménez: Não temos nenhum documento, nem menção
nos evangelhos, mas deduzimos que sim, por causa da fraqueza da nossa natureza.
Eles eram como os outros, pobres homens e pecadores.
Quando começou a confissão na Igreja,
tal como a conhecemos hoje?
- Pe. Jiménez: Desde os primeiros tempos da Igreja,
quando a confissão era pública. No século IV ela passou a ser privada,
auricular.
Desde que idade e até quando um
católico tem que se confessar?
- Pe. Jiménez: Em qualquer idade. Mas a Igreja
aconselha começar com a primeira comunhão. E enquanto mantivermos o uso da
razão, sendo conscientes da nossa vida moral e de católicos.
O papa Bento XVI disse que os doentes
devem ser levados à confissão sempre. Podemos pecar quando sofremos, prostrados
numa cama?
- Pe. Jiménez: É para a serenidade e para a
tranquilidade da consciência, e para dar sustento, força e consolação no meio
do sofrimento físico.
Quem não está casado pela Igreja pode
se confessar?
- Pe. Jiménez: Não pode, porque vive em estado de
pecado.
De que modo o sacramento da
reconciliação poderia ser um elemento importante para a nova evangelização
desejada pelo papa?
- Pe. Jiménez: A reconciliação é indispensável para
todo cristão, especialmente neste período histórico em que o povo se afasta dos
sacramentos. Através da consciência, reconhecendo com grande humildade a
miséria da natureza humana diante de Deus e dos outros, nos tornamos mais
humanos e sensíveis ao outro e de modo especial a Deus.
É tradição que os confessionários da
basílica papal de Santa Maria Maior fiquem a cargo dos dominicanos, certo?
- Pe. Jiménez: É uma antiga tradição, desde a fundação
da Penitenciaria Apostólica, pelo papa Pio V, que a confiou aos padres
dominicanos em 1568.
As pessoas podem se confessar em
várias línguas com vocês...
- Pe. Jiménez: Em latim e em todas as línguas
modernas. Tentamos cobrir a maior parte dos idiomas com muita diligência e
preocupação apostólica.
Quantas horas por dia você fica no
confessionário? Todos os dias da semana?
- Pe. Jiménez: Pelo menos 23 horas por semana. Depende
do dia, com um dia e meio de descanso semanal.
Dizem que os confessores têm uma
terapia para não ficar sobrecarregados com tantos pecados que escutam... Você
precisa desse tipo de ajuda?
- Pe. Jiménez: Não, não. Todos nós, com grande
espírito de fé e de generosidade fraterna, realizamos esta missão apostólica.
Não existe nenhuma terapia, a única é a reconciliação com Deus através da sua
misericórdia e perdão.
Quem se confessa mais, os homens ou
as mulheres? Os mais velhos ou os mais jovens?
- Pe. Jiménez: Não existe nenhuma distinção. Muitos
são jovens, mulheres, anciãos...
No geral, pode nos dizer quais são as
angústias que levam as pessoas a se confessar?
- Pe. Jiménez: A angústia é pelos pecados cometidos, e
elas saem com muita paz interior e alegria espiritual. E também temos os
problemas da nossa sociedade atual, como a solidão, a falta de trabalho, a
falta de recursos econômicos, entre outros.
Dizem que os papas se confessam com
frequência, que o beato João Paulo II se confessava semanalmente. Bento XVI
segue esta prática?
- Pe. Jiménez: Claro, como todo cristão e bom pastor
da Igreja. Ninguém é impecável e perfeito neste mundo. O papa também se
confessa regularmente.
O que você diria aos nossos leitores
que não se confessaram ainda nesta quaresma?
- Pe. Jiménez: Eu aconselho a se confrontarem
humildemente com a palavra de Deus e a seguirem toda a inspiração divina para
uma autêntica vida de conversão. Aproveitando toda a ajuda que Nosso Senhor nos
oferece, na sua paciente misericórdia. Não se privem de uma ajuda para a sua
vida espiritual e moral.
Fonte: Zenit
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