A
experiência extraordinária com o Espírito Santo exclui o Magistério da Igreja?
Seg, 12 de
Julho de 2010 - Alessandro Lima
Uma das grandes questões levantadas nos círculos cristãos é se o cristão pode ou
não ignorar o ensino da Igreja se estiver vivendo uma experiência real com o
Espírito Santo. Isto é, o cristão pode ou não ser guiado diretamente pelo
Espírito Santo sem necessitar do Magistério da Igreja?
Se Deus o permitir, gostaria de colocar um pouco de
luz sobre este assunto.
A Sagrada Escritura dá testemunho
que em tempos muito remotos Deus costumava conversar com os homens. Tal era o
caso de Adão (cf. Gn 1,28-30; 2,16-17; 3,9.11.17-19) e seu Filho Caim (cf. Gn
4,6-7.9-12.15). Aliás eram os únicos homens na terra e só poderiam ser
orientados pelo Senhor através Dele mesmo.
Quando a terra começa ficar
populosa, o Senhor confia seus oráculos somente a poucos homens, para que sejam
sinais, testemunhas e guia do Senhor para o resto da humanidade. Este novo
passo da revelação Divina aos homens é iniciado com Noé (cf. Gn 6,13-21; 7,1-4;
8,15-17).
Depois de Noé, o Senhor não só
continua a dar prosseguimento ao Seu Magistério, como também começa a preparar
o caminho da salvação através de Abraão. E somente a ele confia sua revelação
(cf. Gn 12,1-3.7; 13,14-17; 15; 17,1). Sagrada Escritura nos conta que o Senhor
(Jesus Cristo) também apareceu a Agar (escrava de Sarai, mulher de Abraão, com
a qual o Patriarca teve seu primeiro filho, Ismael) concedendo-lhe uma
revelação por causa da sua aflição (cf Gn 16,7-14).
Alguns poderiam afirmar aí que, a
exemplo de Agar, o Senhor pode nos guiar diretamente. Porém o Senhor que
conhece o pensamento dos homens, para mostrar que seus oráculos não são
confiados diretamente, mas sim através de um magistério legitimamente
instituído, pede para que Agar volte depressa para a casa de Abraão, que é uma
pré-figura da Igreja, pois era na casa de Abraão que naquele tempo estava
presente o Magistério Divino.
Isto mostra que o Senhor pode
revelar-se sim, das formas mais diversas e controversas possíveis, a qualquer
um, em qualquer lugar e a qualquer tempo, porém Sua mensagem sempre nos
exortará ir ao encontro de Seu Magistério, que é o Seu Sinal para todos os
homens e de onde, somente, podemos conhecer a Verdade.
Tal foi o caso do Apóstolo Paulo,
que embora tenha recebido uma revelação direta do Senhor (cf. At 9,1-9; Gl
1,12), embora tivesse visto o Senhor ressuscitado, só pôde dar início ao seu
ministério após ter sido iniciado pela Igreja (cf. At 9,10-19); pois a Igreja é
o sinal visível do Magistério Divino.
Ninguém pode se declarar dotado de
dons espirituais e nem se declarar pastor do povo de Deus, sem que a Igreja
tenha lhe dado tal carisma. Pois o ministério eclesiástico é ordenado (Lv
8,1-13; Dt 34,9; At 1,15-26; 6,1-6; 9,10-19; 1Tm 4,14; 2Tm 1,6; Tito 1,5) e o
Espírito Santo é dado através dos Sacramentos da Igreja (cf. At 8,14-21;
19,13-19). Assim como o ministério eclesiástico fora dado para a Igreja
(através dos apóstolos) diretamente por Deus na Pessoa de Jesus Cristo e daí
por diante foi concedido a outros somente através das sucessões apostólicas, o
mesmo acontece com os dons do Espírito Santo, que inicialmente fora dado para a
Igreja por Deus na Pessoa do Espírito Santo (cf. At 2,1-13) e daí por diante
somente foi concedido através da Igreja nos seus Sacramentos, conforme o leitor
pode verificar nas referências bíblicas anteriormente citadas.
O Espírito Santo embora guiasse o
Apóstolo Paulo orientando-o sobre o quê e onde deveria pregar, em uma revelação
manda-o submeter seu Evangelho (sua pregação acerca da Boa Nova) ao Magistério
da Igreja (cf. Gl 2,1-2). São Paulo sabia muito bem que a Igreja era o sinal
Visível da Verdade (cf. 1Tm 3,15), tanto o sabia que foi a Jerusalém submeter
seu Evangelho aos outros Apóstolos, pois temia pregar ou ter pregado em vão
(cf. Gl 2,2). Assim é a ação do Espírito Santo, sempre aponta para a Igreja,
que é a única "Coluna e o Fundamento da Verdade" (cf. 1Tm 3,15).
E disto bem sabiam aqueles que amaram o Senhor antes
de nós, pois sempre procuravam ser fiéis ao Magistério da Igreja (cf. At
16,4-5).
Porém, não eram todos. A exemplo de
hoje, ainda nos tempos apostólicos, aqueles que se julgavam dotados de dons
espirituais, achavam que o Espírito Santo os guiava diretamente e, consequentemente,
acabavam ignorando o Magistério da Igreja. Tal era o caso dos cristãos em
Corinto. Os coríntios eram dotados de todos os dons vindos do Espírito Santo
(cf. 1Cor 1,4-6), no entanto o desprezo pelo Magistério da Igreja fez com que a
baderna tomasse conta da Igreja.
São Paulo escreve sua epístola para
intervir nesta comunidade e prescreve várias normas de fé, além de regras
morais e disciplinares (Caps 1-11, 15-16). Nos capítulos 12 a 14, o Santo
Apóstolo ensina como os coríntios deveriam administrar os carismas recebidos
pelo Espírito Santo. Ora, se o Espírito Santo guiasse diretamente os fiéis, não
haveria a necessidade do Apóstolo prescrever tais instruções, já que a Igreja
de Corinto era farta em carismas (cf. 1Cor 1,4-6).
Para aqueles que se julgam
Pentecostais ou Carismáticos e verdadeiros conhecedores da Sagrada Escritura,
saibam que a Escritura dá testemunho que aquele que realmente é tomado pelo
Espírito Santo, sabe que é Este mesmo Espírito que confirma a Igreja na
Verdade, sendo portanto imprescindível a fidelidade ao seu Magistério, pois
tais são as palavras do Santo Apóstolo:
"Se alguém se julga profeta ou agraciado com dons espirituais, reconheça
que as coisas que vos escrevo [o que ensina a Igreja] são um mandamento do
Senhor. Mas se alguém quiser ignorá-lo, que o ignore!" (1Cor
14,37-38). Ver também 1Tess 5,12-13; Tito 1,7; 2,15; Filemon 1,8.
Fonte: Veritatis Splendor