PERGUNTE E RESPONDEREMOS 521 – novembro 2006
Ainda
uma vez:
RITUAL
DE EXORCISMOS E OUTRAS SÚPLICAS
Em
síntese: A publicação do Ritual dos Exorcismos
revisto e atualizado levou a imprensa a dizer que a Igreja Católica reformou
seu Ritual coagida pela frequente aplicação do exorcismo nas comunidades protestantes.
Não querendo perder seus fiéis, a Igreja terá decidido atualizar a prática do
exorcismo em seus templos, tirando do esquecimento essa prática. - Tal
interpretação dos fatos não corresponde à realidade, como se depreende da
leitura das páginas subsequentes.
Foi
recentemente publicada a tradução brasileira do reformado Ritual de Exorcismos.
O Ritual anterior necessitava de ser atualizado, visto que não levava em conta
(nem o podia) as conclusões da moderna parapsicologia, que vê em muitos fenômenos
extraordinários manifestações do psiquismo humano e não do demônio.
A
mencionada publicação deu ensejo a que o jornal O ESTADO DE SÃO PAULO aos 14/08/05
interpretasse o fato como artifício para não perder fiéis, que iriam procurar
nas comunidades protestantes o exorcismo que a Igreja Católica teria posto de
lado após o Concílio do Vaticano II. Eis como se exprime a repórter Adriana
Dias Lopes:
"Há
40 anos, a Igreja Católica começou a se desinteressar pelo velho ritual do
exorcismo, com a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II. Pois, quatro
décadas depois, ela ameaça retomar a prática. Vê-se obrigada a fazer isso em
defesa própria, já que os pentecostais arrebanham cada vez mais adeptos da
Igreja esconjurando demônios.
O
espetáculo exorcista exibido diariamente com tremendo sucesso a centenas de
fiéis em programas noturnos nos meios de comunicação tem deixado a linha
tradicional da Igreja em estado de alerta. ‘A Igreja sabe que existe a
possibilidade de perder mais uma vez a mão com o exorcismo, como ocorreu na
Idade Média com a caça às bruxas’, explica o teólogo Afonso Soares, professor
de Ciências da Religião na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São
Paulo".
Esta
errônea interpretação dos fatos é dissipada pelos dizeres da Introdução Geral
ao novo Ritual:
1. Exorcismo: que
é?
Desde
os tempos apostólicos, a Igreja exerceu o poder que recebeu de Cristo, de
expulsar os demônios e repelir sua influência (cf. At 5, 16;
8, 7; 16, 18; 19, 12). Por isso, constantemente e com confiança, ora "em
nome de Jesus" que a livre do Mal (cf. Mt 6, 13). E ainda no mesmo nome,
por força do Espírito Santo, de vários modos ordena aos demônios que não
impeçam a obra da evangelização (cf. Us 2, 18) e entreguem "ao Mais
Forte" (cf. Lc 11, 21-22) o domínio sobre todos e cada um dos seres
humanos. "Quando a Igreja exige publicamente e com autoridade, em nome de
Jesus Cristo, que uma pessoa ou um objeto sejam protegidos contra a influência
do Maligno e subtraídos ao seu domínio, fala-se de exorcismo".
2. Possessão
diabólica
O
mistério da divina piedade se torna mais difícil ao nosso intelecto quando, por
permissão de Deus, ocorrem casos de especial tormento ou possessão que o diabo
exerce em prejuízo do homem incorporado ao povo de Deus. Em tais casos, a Igreja
suplica a Cristo Senhor e Salvador e, confiante no poder dele, oferece muitos
auxílios ao fiel atormentado, a fim de que seja libertado do tormento ou da
possessão.
3. Exorcismo
maior ou solene
Entre
esses auxílios, sobressai o exorcismo maior, solene, também chamado grande exorcismo,
que é uma ação litúrgica. Por esse motivo, o exorcismo, que "visa expulsar
os demônios ou livrar da influência demoníaca, e isto pela, autoridade
espiritual que Jesus confiou à sua Igreja", é uma prece que faz parte dos
sacramentais; portanto, um sinal sagrado pelo qual "são significados
efeitos principalmente espirituais, obtidos por intercessão da Igreja".
Nos
exorcismos maiores, a Igreja, unida ao Espírito Santo, suplica-lhe que auxilie
a nossa fraqueza (cf. Rm 8, 26) para afastar os demônios, a fim de que não
prejudiquem os fiéis. Confiando no dom do Espírito, nos exorcismos, a Igreja
não age em próprio nome, mas unicamente no nome de Deus ou do Senhor Jesus
Cristo, a quem todas as coisas, inclusive o Diabo e os demônios, devem obedecer
e estão sujeitos.
4. O
exorcista: qual deve ser
O
ministério de exorcizar os atormentados é concedido por peculiar e expressa
licença do Ordinário local que, normalmente, será o próprio Bispo diocesano.
Essa licença só deve ser concedida a um sacerdote que se distinga pela piedade,
ciência, prudência e integridade de vida e especificamente preparado para esta
função. Mas o sacerdote a quem foi confiado o encargo de exorcista, de modo
estável ou para um caso determinado, com confiança e humildade execute essa
obra de caridade sob a moderação do Ordinário. Neste livro, quando se fala de "exorcista",
sempre deve-se entender o "sacerdote exorcista".
5. Cautela
No
caso de alguma intervenção considerada demoníaca, o exorcista tenha, sobretudo,
a necessária e máxima circunspecção e prudência. Em primeiro lugar, não creia
facilmente que alguém esteja possesso do demônio, pois pode tratar-se de outra
doença, sobretudo psíquica. Do mesmo modo, não acredite absolutamente que haja
possessão, quando alguém julga que é especialmente tentado pelo Diabo,
desamparado e, por fim, atormentado; pois alguém pode ser enganado pela própria
imaginação. Igualmente, para não ser induzido em erro, preste atenção aos artifícios
e fraudes usadas pelo Diabo para enganar a pessoa, para convencer o possesso a
não se submeter ao exorcismo, diz tratar-se de doença natural ou que depende do
médico. De todas as formas, comece por saber exatamente se é realmente
atormentado pelo demônio aquele do qual isso é afirmado.
Distinga
corretamente os casos de ataque do Diabo da falsa opinião pela qual alguns,
também entre os fiéis, julgam ser objeto de malefício, de má sorte ou de
maldição, que outros lançaram sobre eles, seus próximos ou seus bens. Não lhes
negue ajuda espiritual, mas, de forma alguma, use o exorcismo; pode fazer
outras orações condizentes, com eles ou em favor deles, de forma que encontrem
a paz de Deus. Da mesma forma, não se deve recusar a ajuda espiritual aos
crentes que o Maligno não toca (cf. 1Jo 5, 18), mas, tentados por ele, sentem-se
mal, porque querem manter fidelidade ao Senhor Jesus e ao Evangelho. Isso pode
ser feito também por um sacerdote que não seja exorcista, inclusive por um
diácono, por meio de oportunas preces e súplicas.
6. Os sintomas de
possessão
Portanto,
o exorcista não comece a celebrar o exorcismo se não souber, com certeza moral,
que o exorcizando está realmente atormentado pelo demônio e, se possível, que
ele consinta.
Segundo
uma praxe comprovada, os sinais de obsessão diabólica são: falar muitas
palavras numa língua desconhecida ou entender alguém que a fala; manifestar
coisas distantes ou ocultas; mostrar forças superiores à idade ou às condições
físicas. Esses sinais podem dar algum indício. Contudo, como tais sinais não precisam
necessariamente ser considerados como vindos do Diabo, deve-se dar atenção
também a outros, sobretudo de ordem moral e espiritual, que manifestam de outra
forma a intervenção diabólica, como, por exemplo, forte aversão a Deus, ao
Santíssimo Nome de Jesus, à Bem-aventurada Virgem Maria e aos Santos, à Igreja,
à palavra de Deus, a coisas, ritos, especialmente sacramentais, e imagens
sacras. E, finalmente, deve ser cuidadosamente examinada a relação de todos os
sinais com a fé e o combate espiritual na vida cristã, já que o Maligno, em
primeiro lugar, é inimigo de Deus e de tudo o que une os fiéis com a ação salvífica
de Deus.
7. Exorcismo não é espetáculo
O
exorcismo seja feito de forma que manifeste a fé da Igreja e ninguém possa
considerá-lo uma ação mágica ou supersticiosa. Deve-se tomar cuidado para que
não se transforme num espetáculo para os presentes. Enquanto se faz o
exorcismo, de forma alguma se dê espaço a qualquer meio de comunicação social e
até, antes de fazer o exorcismo e depois de feito, o exorcista e os presentes
não divulguem a notícia, observando a necessária discrição.
Estas
ponderações evidenciam o sentido do exorcismo na Igreja Católica. Demonstram
quão diferente é este rito do que ocorre em comunidades protestantes, que multiplicam
seus "exorcismos" indiscriminadamente e em estilo teatral.
Dom
Estêvão Bettencourt (OSB)