PERGUNTE E RESPONDEREMOS 391/dezembro 1994
Mundo Atual
Resposta
ao Jornalista:
"A
IGREJA ESTÁ FALANDO SOZINHA"
Em síntese: A
Igreja não está falando sozinha quando lembra à sociedade os princípios básicos
da Ética Sexual. Na verdade, o bom senso não se extinguiu por completo no mundo
de hoje. Mas, ainda que falasse sozinha, estaria em melhores condições do que o
coro daqueles que apregoam a destruição do verdadeiro amor, da família e da
pessoa humana, expondo jovens e adultos aos perigos da AIDS e do aborto (único
trauma que a mulher não consegue esquecer, segundo bons psicólogos). Merece
respeito Aquela que não tem medo da peia de "estar falando sozinha",
se Ela o faz para o bem da humanidade.
=-=-=
O
jornalista Gilberto Dimenstein, da FOLHA DE
SÃO PAULO, acha que a "a Igreja está falando sozinha" quando lembra à
sociedade de hoje as linhas básicas da Ética Sexual... Respondeu-lhe
o Pe. Paschoal Rangel no jornal O
LUTADOR, ed. de 21
a 27 de
agosto de 1994, p.2. Com a devida
autorização e atendendo a solicitações de nossos leitores, publicamos, a
seguir, o artigo do Pe. Rangel, a quem vão os agradecimentos sinceros da Redação
de PR.
IGREJA
DESUMANA?
Simpatizando
embora com a Igreja que lutou contra a ditadura, que defende os direitos
humanos, se dedica ao social na pastoral da criança, nas lutas dos sem-casa e
sem-terra etc, Gilberto
Dimenstein não consegue entender a Igreja, quando esta se coloca contra a
anticoncepção, contra a propaganda da prevenção da AIDS pelo uso da camisinha e
coisas desse tipo. A propósito, ele comentou uma pesquisa de opinião do Datafolha
que mostrava (?) que os
"fiéis" não seguiam seus pastores, senão muito escassamente, no que
se refere aos métodos de planejamento familiar ou do combate à AIDS. Neste
ponto — pensa ele, que
não faz parte, aliás, do corpo dos "fiéis" —
é bom que os católicos não sigam a Igreja. A
explosão demográfica é um perigo gravíssimo. E combater o uso de camisinha
contra a AIDS chega a ser "desumano". A AIDS se espalha rapidíssima e
assutadoramente e querer combatê-la com a castidade apenas é uma utopia. Com
essa teimosa insistência contra a camisinha, a Igreja só estaria expondo seus
"fiéis" a se contaminar e se condenar à morte.
Há
uma incompreensão muito séria no tocante à posição da Igreja. Primeiro, ela não
é por uma família não-planejada. Pelo contrário. Foi mesmo a Igreja que pôs em
circulação a idéia de "paternidade responsável". Esta
responsabilidade inclui necessariamente um planejamento familiar inteligente,
saudável, levado a sério.
Essa
responsabilidade exclui o engodo, a empulhação por parte de médicos e
instituições nacionais ou internacionais, mantidas com dinheiro do Banco
Mundial, que têm levado uma multidão de jovens mulheres a se deixarem
esterilizar em troca de míseras vantagens imediatistas.
Dom Lucas Moreira Neves, Cardeal-Arcebispo de Salvador,
já teve ocasião de denunciar, com base em dados que ele citou, que cerca de 20
milhões de mulheres, em idade fértil, já foram esterilizadas no Brasil, na
maioria das vezes mulheres pobres, nordestinas, engazopadas
por falsas promessas. Evidentemente, isso é um insulto ao
Brasil, à consciência do povo, ao sentido de cidadania. E contra isso está a
Igreja.
A
responsabilidade exclui ainda uma "política" de "controle da
natalidade" em que o Estado decide pelo casal o número máximo de filhos
que ele pode ter...
Seria
bom observar que, em poucos anos, o Brasil mudou profundamente o seu perfil
demográfico. Já não se pode afirmar, como há vinte anos, que somos um país com
60% da população com menos de vinte anos. As estatísticas demonstram que, em
poucos anos, o Brasil envelheceu sensivelmente. E passamos de famílias com uma
média de seis filhos cada uma, para famílias com média de 2,8 filhos cada uma,
como mostrou o último censo. Foi uma queda brutal e arriscada, embora não se
possa falar de graves perigos em pouco tempo.
Quando
a Igreja se coloca contra o controle da natalidade efetuado a qualquer preço,
por quaisquer meios, é importante pensar que:
1)
ela se opõe e sempre, contra o aborto como se
fosse um método lícito de controlar a natalidade; com isso, ela está lutando em
favor da vida; o fato de ser uma vida por nascer não muda o fato de ser uma
luta pela vida. Os que lutam pelo aborto, poderão dizer o que quiserem, mas
estão lutando pela morte; mais, pelo "direito" de matar um inocente,
porque se teme que esse ser humano que vai nascer, se torne uma ameaça ao
bem-estar dos que já nasceram e estão aí. Quando se defende o direito de matar
um feto defeituoso, estamos lutando em favor desse poder, arbitrário e opressor,
de excluir da sociedade dos homens os doentes, os deficientes. Quem nos dá esse
direito? Algum Hitler? Lutar
pelo aborto é lutar pela morte. A Igreja luta pela vida.
2) Ela
está batalhando pelo sexo responsável, pela defesa da sexualidade humana,
contra a banalização do
sexo, tornado uma diversão, cultivado
como um jogo irresponsável. O que temos ouvido em campanhas até patrocinadas
pelo Ministério, veiculadas por um pessoal que tem a maior obrigação de ser
responsável em vista do poder de influir na opinião pública (artistas,
jornalistas, donos de televisão etc), o
que temos ouvido, é que os jovens, os adolescentes inclusive, não tenham medo
de "namorar", de transar com qualquer um, contanto que usem
camisinha... Com camisinha, "amem" sem medo. Ao lado disso, filmes
eróticos e pornográficos, cenas eróticas em novelas, excitações sexuais longas
e repetidas, convite à liberação geral, irresponsável... Depois se vem dizer
que castidade é utopia.
Mas,
além disso, o que não se diz, o que nem o Gilberto Dimenstein se lembrou de
dizer, é que esse permanente convite à transa, ao sexo livre, promíscuo,
inclusive homossexual, aumenta perigosamente a incidência de casos de
contaminação com o HIV (o vírus da AIDS). Pois a camisinha diminui
sensivelmente os casos de contaminação, mas não é um método seguro: ela se
rompe, ela pode não ser bem colocada e deixar vasar o esperma; ela, às vezes,
está na bolsa do fulano e da fulaninha, mas a excitação do momento é tão forte
que os parceiros não se lembram de usá-la ou não querem interromper a excitação
para isso... E, multiplicados os casos de transa promíscua ou homossexual,
graças à propaganda e à erotização generalizada, os casos de contaminação,
apesar da camisinha, se tornam muito mais numerosos. Será a Igreja que está
sendo desumana, ou são os jornalistas, os artistas, os publicitários, os donos
de TV, que criam situações de contágio muito mais freqüentes
e perigosas?
E
isto sem falar da degeneração dos costumes, da Moral, da perda do sentido da
sexualidade humana, do senso de responsabilidade, do significado do Evangelho.
COMENTANDO.. .
O
Pe. Paschoal Rangel bem mostra que desumana não é a Igreja, mas são aqueles que
ousam, talvez de boa fé, enganar os jovens e o público em geral; são
"simpáticos", porque não vão contra a onda; parecem apenas propor
"salvaguardas" para que continue a livre satisfação dos impulsos
descontrolados. As conseqüências desta
atitude são a multiplicação dos casos de AIDS, a gravidez indesejada e o aborto
(único trauma que a mulher não consegue esquecer, como dizem bons psicólogos) e
outros males decorrentes das paixões desencadeadas. —
A Igreja não está falando sozinha, porque o
bom senso não se extinguiu por completo em nossa sociedade; mas, ainda que
falasse sozinha, estaria em melhores condições do que aqueles que falam em
coro, apregoando a destruição do verdadeiro amor, da família e da pessoa
humana. Merece respeito Aquela que não tem medo da peia de "estar falando
sozinha", se Ela o faz para o bem da humanidade.