PERGUNTE
E RESPONDEREMOS 356 – janeiro 1992
Como Lidar
com as Seitas
de Pe. Pauto H.
Gozzi. — Ed. Paulinas. São Paulo 1989 (2a edição), 120 x 200 mm. 124
pp.
O Livro contém 44
artigos publicados outrora na folha “O Domingo — Culto Dominical”. Em estilo simples,
apresenta algumas denominações protestantes o outras correntes religiosas novas
(Parte I); a seguir, procura refutar objeções que fazem à Igreja Católica
(Parte II). A intenção do autor é multo boa, pois procura habilitar os
católicos a dialogar com não católicos em tom sereno. Todavia o caráter irenista
e demasiado popular da obra torna-a superficial; não vai ao âmago dos assuntos
discutidos; além disto, tende a um certo relativismo religioso. Eis alguns espécimes
de passagens mal redigidas:
P.90:
"O Concilio do Vaticano II declarou... que o fiel católico deveria
comungar sob as duas espécies. Mas infelizmente os padres, talvez por
comodismo, relaxamento ou falta de boa formação litúrgica, continuam a fazer
como antigamente" — Ora quem lê a Constituição Sacrosanctum Concllium no 55 verifica que o Concilio concede a Comunhão
sob as duas espécies a critério dos Bispos em casos especiais. Somente aos
5/3/75 a Santa Sé concedeu aos Bispos do Brasil a faculdade de permitirem a
Comunhão sob as duas espécies em casos mais numerosos, desde que se observem
certas medidas de cautela para evitar abusos.
P.94: As diferenças
entre católicos e demais cristãos estariam em detalhes de teologia. — Ora isto
não é verdade: a real presença de Cristo na Eucaristia, a Missa como sacrifício
do Calvário perpetuado sobre os nossos altares, o primado de Pedro, o
sacramento da Reconciliação... vêm a ser artigos de fé que os protestantes
negam.
P.90: Ao celebrarem a
Santa Ceia, "os protestantes fazem o mesmo que nós, mas falta a ligação de
seus pastores com os Apóstolos". — Para os protestantes, a Santa Ceia é
mero símbolo da presença de Cristo; eles não tencionam realizar a anámnesis do
Senhor no sentido da Bíblia e da Tradição, que têm anámnesis
como memorial que efetua ou torna presente aquilo que é recordado.
P.101: O
purgatório ocorre no momento da morte... — Isto não condiz com a sã doutrina.
Após a morte não conheceremos a sucessão de dias e noites, mas entraremos no evo,
que é uma sucessão de atos psicológicos ou é o tempo psicológico, diferente do tempo
astronômico e da eternidade.
P.61: O trabalho
missionário teria por fim apenas valorizar e aperfeiçoar tudo o que haja de bom
e verdadeiro tora do Catolicismo. — Isto se acha em evidente contraste com a
clássica doutrina da Igreja apregoada ainda recentemente por João Paulo II na
sua encíclica Redemptoris Missio. O
relativismo religioso transparece neste e em outros tópicos do livro.
P.80: O autor dá a
entender que se vendiam indulgências no século XVI: "Os pobres ganhavam
menos indulgência porque davam menos dinheiro que os ricos". A formulação
leva a mal-entendidos; nunca a Igreja vendeu o perdão dos pecados ou algum bem
espiritual. A esmola é mero símbolo de fé e amor, ela de nada vale se não é
inspirada por fé e amor, ao passo que fé e amor tudo valem mesmo sem o símbolo
do dinheiro.
P.80: “Deus é a favor
dos pobres e contra os ricos (veja Lc 1,51-53)". — Na verdade, Deus não
julga ninguém pelo fato de ser pobre ou rico; o que conta aos olhos de Deus é a
honestidade de vida e a pureza de coração, que são compatíveis tanto com a
riqueza como com a pobreza.
Haveria outras
incorreções do livro a apontar. A própria linguagem de divulgação da obra não
está isenta de imperfeições. Em suma, entre a boa intenção do autor e a
execução da obra nota-se uma defasagem desabonadora.
Dom
Estêvão Bettencourt (OSB)