PERGUNTE
E RESPONDEREMOS 397/junho 1995
Prática
Cristã
SEJA HERÓI!
Ser herói parece um
privilégio reservado a poucos... No entanto, quando a Igreja se dispõe a
averiguar a autenticidade cristã de alguém que tenha morrido em odor de
santidade, o primeiro passo consiste em examinar se foi heróico ou não na
prática das virtudes. Isto quer dizer que o heroísmo é um componente básico do
ideal cristão. Ser heróico vem a ser algo de normal ou normativo para o
cristão.
E em que consiste o heroísmo?
- Não é necessariamente
fazer coisas vistosas, mas, sim, fazer aquilo que Deus pede (às vezes,
simplesmente o cotidiano rotineiro) de maneira coerente e radical, sem regateios
nem tibieza. Aí
está o extraordinário do heroísmo cristão: apesar da tendência à lerdeza e à
acomodação, mobiliza-se para realizar com a possível perfeição cada tarefa do
dia e da noite. Com outras palavras: o heroísmo consiste em que o cristão não
se deixe abater por erros e falhas, não capitule nem se entregue à mórbida
compaixão para consigo mesmo, mas procure reerguer-se prontamente de suas
quedas e prossiga com fortaleza e serenidade na estrada do Senhor.
Um texto bíblico vem
muito a propósito... A epístola aos Hebreus é
dirigida a cristãos propensos ao desânimo... O autor sagrado propõe-lhes então,
no capítulo 11, a galeria dos heróis da fé desde o justo Abel até os mártires
macabeus (séc. II a. C). E acrescenta: toda essa multidão de gente forte se
coloca agora como "torcedores" num estádio, a espreitar o modo como
as gerações cristãs, por sua vez, assumem o desafio da sua vocação: esta não é
vocação para uma corrida de salto espetacular, que em segundos é superada
retumbantemente, mas é corrida de fôlego, que tanto mais gloriosa é quanto mais
prolongada : um passo, um passo, mais um passo, mais um passo... até chegar
"caindo aos pedaços"; cf. Hb 12, 1-4. Tal é o heroísmo cristão: uma
corrida de fôlego, que os espectadores não têm paciência e tempo para
acompanhar, porque "não termina mais:"; Deus, porém, e o atleta cristão
sabem quanto esse heroísmo imperceptível é grande. Para vencer o páreo, o
cristão tem que depor o fardo do pecado, que o torna pesado (torne-se
"peso leve") e munir-se de paciência tenaz e perseverante. O autor
observa ulteriormente: "Ainda
não disputastes até
o derramamento do sangue" (Hb 12,4), o que lembra um princípio proposto
aos atletas greco-romanos: "Não é atleta consagrado aquele que não vê
correr o seu sangue".
Neste mês de junho, que lembra o amor heróico
de Cristo configurado em seu Coração, possam os fiéis católicos tornar-se
conscientes desta sua vocação ao heroísmo e fujam da "áurea de mediocridade",
que é anemia e leva à estagnação e à morte.
"Somos filhos
dos Santos, e esperamos aquela vida que Deus há de dar àqueles que nunca
retiram dele a sua fé" (Tb 2,18 Vg).